A pergunta é legítima: será que ao disponibilizarem, gratuitamente, nos seus blogues, os artigos que publicam nos jornais, os cronistas não estão a esvaziar a imprensa tradicional do seu valor de mercado?
Na verdade, de Pacheco Pereira a João Miranda, passando por João Pereira Coutinho ou António Sousa Homem, cada vez mais há colunistas de imprensa que, poucas horas depois de publicarem em jornais, colocam nos blogues os textos publicados.
Ora, se eu compro, por exemplo, o Público, ao sábado, apenas para ler Pacheco Pereira, posso deixar de gastar 1,25 euros e basta-me para isso esperar umas horas até que a sua crónica apareça no blogue “Abrupto”, onde a poderei ler e guardar em papel sem gastar um cêntimo...
Esta é, naturalmente, uma reflexão que jornais e autores podem vir a fazer.
Outra, bem diferente, é aquela que vira do avesso a lógica da leitura. Exemplo: como todos os sábados, comprei o Expresso e li, ao longo do fim-de-semana, o que mais me chamou a atenção ou me interessou. Provavelmente hoje, segunda-feira, o jornal iniciaria o seu processo de falência e morte natural. Mas eis que, por causa de um blogue, 2 artigos que provavelmente me passariam ao lado, são repentinamente alvo da minha atenção.
João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos, acordou-me para os dois textos:
“O suplemento "cultural" do Expresso, escreveu ele, vale apenas porque intermitentemente insere bons artigos, coisas para pensar. O resto é sempre pequenas prosas por pequenos tartufos. Esta semana valem os textos de Nuno Crato sobre o ensino da matemática no "básico" (não adianta andar a distribuir computadores quando o sistema prepara mentecaptos através de facilitismos estéreis espelhados em regulamentos que querem dizer nada) e de Joaquim Manuel Magalhães sobre o regime, o "socratismo" da felicidade que espreita à esquina. (...) Ficam "algumas palavras" do Joaquim, de uma crónica terrivelmente intitulada "Derrocada": «(...) Destroem a classe média, precisamente aquela de onde, quando não sujeita às extremas pressões das insuficiências, quase sempre vi irromper as aberturas civilizacionais mais consistentes. Esta, não tendo para onde se voltar (já experimentou todos os partidos desta democracia), aceitará um dia politicamente o quê? Se é o espaço fundamental das conquistas democráticas, rapidamente também se torna o espaço da derrocada das próprias democracias. O nosso sistema político não estará já perigosamente em causa?»
Li o post e fui a correr recuperar o suplemento Actual do Expresso para ler os dois artigos, que são realmente relevantes e marcam os dias que passam. Poucas horas depois, no mesmo blog, eram disponibilizados na íntegra os textos originais.
O que resulta daqui?
Duas ideias: primeira, a de que a blogoesfera, quando tem credibilidade e inspira confiança, nos pode devolver aos jornais e forçar a olhar de novo para eles; segunda, a de que é essencial reflectir com precisão e rigor sobre esta relação entre jornais e blogues. Nalguns casos, por causa de um blog não lemos um jornal. Noutros, exactamente o contrário. Veremos o que o futuro nos reserva.
Na verdade, de Pacheco Pereira a João Miranda, passando por João Pereira Coutinho ou António Sousa Homem, cada vez mais há colunistas de imprensa que, poucas horas depois de publicarem em jornais, colocam nos blogues os textos publicados.
Ora, se eu compro, por exemplo, o Público, ao sábado, apenas para ler Pacheco Pereira, posso deixar de gastar 1,25 euros e basta-me para isso esperar umas horas até que a sua crónica apareça no blogue “Abrupto”, onde a poderei ler e guardar em papel sem gastar um cêntimo...
Esta é, naturalmente, uma reflexão que jornais e autores podem vir a fazer.
Outra, bem diferente, é aquela que vira do avesso a lógica da leitura. Exemplo: como todos os sábados, comprei o Expresso e li, ao longo do fim-de-semana, o que mais me chamou a atenção ou me interessou. Provavelmente hoje, segunda-feira, o jornal iniciaria o seu processo de falência e morte natural. Mas eis que, por causa de um blogue, 2 artigos que provavelmente me passariam ao lado, são repentinamente alvo da minha atenção.
João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos, acordou-me para os dois textos:
“O suplemento "cultural" do Expresso, escreveu ele, vale apenas porque intermitentemente insere bons artigos, coisas para pensar. O resto é sempre pequenas prosas por pequenos tartufos. Esta semana valem os textos de Nuno Crato sobre o ensino da matemática no "básico" (não adianta andar a distribuir computadores quando o sistema prepara mentecaptos através de facilitismos estéreis espelhados em regulamentos que querem dizer nada) e de Joaquim Manuel Magalhães sobre o regime, o "socratismo" da felicidade que espreita à esquina. (...) Ficam "algumas palavras" do Joaquim, de uma crónica terrivelmente intitulada "Derrocada": «(...) Destroem a classe média, precisamente aquela de onde, quando não sujeita às extremas pressões das insuficiências, quase sempre vi irromper as aberturas civilizacionais mais consistentes. Esta, não tendo para onde se voltar (já experimentou todos os partidos desta democracia), aceitará um dia politicamente o quê? Se é o espaço fundamental das conquistas democráticas, rapidamente também se torna o espaço da derrocada das próprias democracias. O nosso sistema político não estará já perigosamente em causa?»
Li o post e fui a correr recuperar o suplemento Actual do Expresso para ler os dois artigos, que são realmente relevantes e marcam os dias que passam. Poucas horas depois, no mesmo blog, eram disponibilizados na íntegra os textos originais.
O que resulta daqui?
Duas ideias: primeira, a de que a blogoesfera, quando tem credibilidade e inspira confiança, nos pode devolver aos jornais e forçar a olhar de novo para eles; segunda, a de que é essencial reflectir com precisão e rigor sobre esta relação entre jornais e blogues. Nalguns casos, por causa de um blog não lemos um jornal. Noutros, exactamente o contrário. Veremos o que o futuro nos reserva.
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