quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Estreia

Até agora eram apenas os textos da coluna radiofónica arquivados num blog. Agora, além desses textos, abri um blog pessoal: http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt. Os textos da rádio podem encontrá-los a partir do link Janela Indiscreta que está no blog. Obrigado.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Migração & estreia

Terceiro aviso: a partir da próxima quinta-feira, dia 15, o blog e os seus textos "migram" para a plataforma Sapo. Novo endereço: http://prdantenaum.blogs.sapo.pt. Nesse mesmo dia entra no ar o meu (outro) blog, pessoal e com caracteristicas próprias. Endereço disponibilizado em breve...

Aqui d'El Rei

Um rei manda calar um Presidente e a coisa ferve – ou melhor, ganha pano para mangas para comentários e opiniões. É o que está a dar na blogoesfera depois de Juan Carlos ter gritado um sonoro “cala-te” ao Presidente da Venezuela que tentava insultar Aznar, ex-primeiro de Espanha...
Vejamos a blogoesfera então:
“Como um Alberto João Jardim, Chavez não respeita os opositores, é um palhaço, quer eternizar-se no poder e tem todos os tiques autoritários que nos devem pôr alerta. Mas, tal como Jardim, não é um ditador. Como George W. Bush, pisa, sempre que pode, as regras do Estado de Direito. Como George W. Bush, não é um ditador. Como quase todos os presidentes latino-americanos, Chavez é um populista”. Daniel Oliveira, no blog Arrastão, resume assim o essencial do que a esquerda pensa sobre o tema.
Rodrigo Adão da Fonseca, no blog da revista Atlântico, responde-lhe;
Já não há paciência para os “mas” do Daniel Oliveira. Censure ou apoie Chavez, agora, já não há tacho para esta sistemática mistura de tudo com todos, como se a realidade e a análise política fossem uma espécie de salada de frutas. É que não se percebe porque, para falar em Chavez, é preciso viajar até à Madeira, ou trazer à colação Bush”.
Inez Dentinho, no blog Geração de 60, muda o sentido dos factos e avança:
“A simples indignação do Rei de Espanha perante a ofensa de Hugo Chavez (...) arrumou, em dois segundos, a bravata do ditador (...).Está aqui tudo: a revolta genuína, a representação institucional do País, o decalque dos sentimentos do Povo; a liderança espanhola no espaço Latino-americano; a liberdade de expressão do filho do Conde de Barcelona (...). Numa palavra: a superioridade das monarquias constitucionais nas democracias ocidentais”.
Sofia Loureiro dos Santos, no blog Defender o quadrado, tem argumentos diferentes para defender Juan Carlos:
“Sou republicana e a ideia de monarquia é, para mim, um anacronismo. Mas dizer que Juan Carlos deveria ter estado calado porque não tem a legitimidade do voto espanhol é totalmente descabido. Tem a legitimidade que lhe vem de uma constituição sufragada democraticamente, já para não falar do facto de ter sido um elemento importantíssimo na construção da democracia espanhola”.
JSM, no blog Fora de Estrutura, enfrenta o tema por um lado histórico e escreve:
“Existem mil razões para a razão do monarca, muito para além daquelas que suscitaram a aplaudida intervenção. Em primeiro lugar porque a Venezuela só existe através da Espanha, tal como o petróleo e o desenvolvimento, a escravatura ou a liberdade. E Chavez é ele próprio um produto de todas aquelas contradições”.
Carlos Furtado, no blog Nortadas, elogia o rei de Espanha: “Sempre mostrou coragem e tem sido uma peça fundamental na união das Espanhas. Hoje mostrou que está em grande forma”. Fecho com José Teófilo Duarte que me pareceu sensato no Blog Operatório quando afirma que “Chavez tem um discurso de rua que agrada ao chamado homem da rua. A atitude do rei de Espanha situa-se no mesmo registo. O sucesso inesperado da sua reacção deve-se ao insólito: não se imagina um rei a descer à rua. Os tempos estão a mudar”.
Estão mesmo, e este painel de opiniões que juntei sobre o mesmo assunto mostra bem que, em tempos que mudam, há opiniões para todos os gostos. Assim se deixem as Janelas bem abertas ao debate...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Migração & estreia

Segundo aviso: a partir da próxima quinta-feira, dia 15, o blog e os seus textos "migram" para a plataforma Sapo. Novo endereço: http://prdantenaum.blogs.sapo.pt. Nesse mesmo dia entra no ar o meu (outro) blog, pessoal e com caracteristicas próprias. Endereço disponibilizado em breve...

Na morte de Armando Rafael

A blogoesfera segue um princípio clássico do jornalismo: a proximidade – melhor dito, o círculo de proximidades - determina a relevância do que é tema de conversa. É interessante porque os blogs criticam muito os critérios de escolha dos meios de comunicação clássicos – mas na hora da verdade, reagem da mesmíssima maneira... São humanos, digo eu.
Não admira, por isso, que num período cheio de acontecimentos no universo, por exemplo, internacional, acabe por ser a morte de um jornalista português a mobilizar muitos, mesmo muitos bloggers.
Armando Rafael, até há meses jornalista do DN, chefe de gabinete de António Costa na Câmara Municipal de Lisboa, era um bom jornalista mas também, e sobretudo, um homem bom. Tinha apenas 44 anos. Morreu subitamente, a trabalhar. Sem aviso prévio. Cedo demais.
O facto chocou os colegas, os amigos. Mário Bettencourt-Resendes, por exemplo, voltou ao blog Bicho Carpinteiro:
“Depois de uma longa ausência, regresso pelos piores motivos: morreu um amigo. O Armando Rafael merecia que a vida lhe tivesse dado tempo para que chegasse onde merecia e tinha talento para estar. Era culto, sabia que o mundo não acaba nas nossas fronteiras, tinha um enorme sentido de humor, gostava das coisas boas que a vida tem. Frontal, mas sempre solidário; espírito independente, lealdade irrepreensível, ao lado dos amigos nas horas difíceis”.
Pedro Correia, também um jornalista do DN, no Corta Fitas: “Como muito bem escreveu o Duarte Calvão, todas as mortes são estúpidas, mas algumas são tão estúpidas que nos deixam completamente atordoados.”
Francisco José Viegas, Origem das Espécies: “Fico sem nada para dizer. Rigorosamente nada. Desprotegido. Com a sensação de que estamos todos reduzidos ao silêncio. Mas sobretudo desprotegido. Sem nenhuma explicação”
Miguel Laranjeiro, no blog Geração Sol: “No jornalismo, a preocupação com o rigor que punha em tudo o que fazia, era exemplo para os colegas mais novos. A capacidade de agregar equipas e criar um ambiente de trabalho gratificante era uma arte que desempenhava como poucos.”
Alexandre Brandão da Veiga, no blog Geração de 60, tem um texto notável, apesar de parecer frio e mesmo cruel: conta histórias da sua relação com Armando Rafael e publica uma frase extraordinária: “Era de uma total inconsistência intelectual e um poço de lugares comuns, pelo que não me espantei que tivesse ido para o jornalismo e seguisse a sua veia política.” Parece que Armando chamava a Alexandre “aristocrata reaccionário” – e tinha toda a razão do mundo. Quem será este Brandão da Veiga? Não sei...
Sofia Galvão, num comentário a este post do blog Geração de 60, escreve sobre Armando Rafael: “Era um homem de causas e de intervenção. As suas opções eram claras e conhecidas. Mas nunca foi sectário, nunca se fechou aos outros e ao que era diverso. Testemunho-o, sem hesitação, e com a autoridade de quem não navegou nas suas águas”.
Enfim, mais à esquerda, mais à direita, a morte de Armando Rafael deixou a blogoesfera – porventura a mais militante, mais ligada ao jornalismo e à política -, triste e atordoada. Não é para menos. O que entretanto mudou no mundo é essa possibilidade real de podermos partilhar com os outros, em tempo útil, a dor, a tristeza, o sentimento profundo. Partilho-o com quem ficou assim, sem jeito, no fim-de-semana que passou. “Desprotegido”, também eu.

Migração & estreia

Primeiro aviso: a partir da próxima quinta-feira, dia 15, o blog e os seus textos "migram" para a plataforma Sapo. Novo endereço: http://prdantenaum.blogs.sapo.pt. Nesse mesmo dia entra no ar o meu (outro) blog, pessoal e com caracteristicas próprias. Endereço disponibilizado em breve...

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Blog da Semana: Bussola

“Os lisboetas não são necessariamente, e por regra, menos inteligentes do que nós” – este era o titulo de um dos primeiros posts, a 23 de Outubro de 2007... A coisa prometia, portanto. E promete. O novíssimo blogue Bússola merece obviamente constituir destaque da semana porque começa assim, a vir de Norte para Sul, sem medos, e com textos onde se escreve: “Sobe-me a mostarda ao nariz sempre que um lisboeta acha de bom gosto cumprimentar-me usando uma canhota tentativa de imitar o nosso sotaque: «Atão, murcóm?!. Cumu bai o Puaaaartu?». Imbuído de um espírito cristão, contenho-me e absolvo a idiotice do infeliz, que na sua santa e doce ignorância está convencido que não tem sotaque e a sua amaricada maneira de falar é o cânone. Nessas alturas, respiro fundo, e repito mentalmente, as vezes que se revelar necessário, o maior dos ensinamentos biblícos: «Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles será o Reino dos Céus/Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles será o Reino dos Céus!»». Quando a minha tensão arterial regressa à normalidade, concentro os meus esforços em evitar que a condescendência que me vai na alma se reflicta no sorriso que componho.”
Teme-se o pior neste texto de Jorge Fiel? Teme-se, claro. Ao seu lado estão nomes como Manuel Serrão, Julio Magalhães, Rogério Gomes e Manuel Queiroz, entre outros, e obviamente que o Norte comanda esta bússola que anima agora a blogoesfera.”Neste dealbar do século XXI, há alfacinhas em demasia a pensarem que Lisboa é o Sol à volta da qual gira o resto do país. O que é, convenhamos, pouco inteligente”, acrescenta Jorge Fiel nesse texto quase estatutário do novo blog. Texto que, diga-se, remata assim, citandoAlmeida Garrett: «Se na nossa cidade há muito quem troque o b pelo v, há muito pouco quem troque a liberdade pela servidão».
Eis então um blog com pronuncia do Norte, com gente do Norte, com uma bússola apontada sempre ao mesmo ponto cardeal. E com humor, critica, picardia e ironia em doses generosas, ao lado de ideias e reflexões e temas de debate.
A Janela Indiscreta é alfacinha mas não é fundamentalista – por isso à Janela, esta semana, está o novo blog de “Bussolistas, Nortistas e por isso verdadeiramente elitistas”, como escreve Manuel Serrão num post em que arrasa o filme Corrupção e o apelida de... benfiquista. Eu até sou do Benfica e não conto ver a fita, nem entrar nessas fitas. Mas entro com gosto na Bússola para reencontrar o Norte militante. Encontra-se em http://bussola.blogs.sapo.pt/. Volto na segunda-feira, com noticias de um mundo a norte, a sul, ou onde quer que a minha bússola vá parar...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Se lá chegares...

A discussão do Orçamento de Estado merecia mais do que uma crónica – ou, como se costuma dizer, uma segunda opinião. No caso, uma colecção de segundas opiniões, e são tantas que o mais difícil mesmo é escolher. Mas... alguém tinha de o fazer!
Eduardo Pitta no blog Da Literatura, um post enxuto e certeiro:
“O início da discussão do Orçamento de Estado para 2008 corroborou várias evidências, a primeira e mais desinteressante das quais é que o Menino Guerreiro perde para o Animal Feroz. (...) Mas isso é circo. O pior é ouvir os outros. De Louçã a Portas, passando por Jerónimo, a vacuidade é de regra. Num debate que se presume técnico, a pirotecnia verbal, toda orientada no sentido do kickboxing, traduz falta de senso e vazio de alternativas. O governo agradece”.
Oiçamos agora José Medeiros Ferreiro, sempre poupado nas palavres no Bicho Carpinteiro:
“O inevitável aconteceu: José Sócrates levou a melhor no despique com Santana Lopes. Mas bom, bom, vai ser recordar como se discutia em 2007 o Orçamento em Portugal. No canal Memória...”
Carlos Abreu Amorim, no blog Blasfémias, prefere confrontar comentadores e eleitores. Assim:
“Os comentadores do costume decidiram (...): Santana foi arrasado! Donde, Sócrates esmagou. Já depois dos arautos terem lançado o mote para todos seguirem, Santana até disse que não esteve no seu melhor. Está, pois, decidido: Sócrates manda e mandará (...) ... Só há um ligeiro problema: o povo está-se nas tintas para esses diagnósticos nitidamente feitos antes do debate. Aqueles que se enganaram redondamente antes das Directas laranjas, dentro e fora do PSD, talvez devessem retomar o banho de humildade que tão cedo interromperam”.
Bruno Alves, no blog Desesperada Esperança, observa Santana Lopes e o que vê? Vê o seguinte: “Na sua cara, vê-se apenas o ressentimento, o orgulho ferido, e claro, a recordação de um falhanço estrondoso. Santana ia, mais uma vez, "surpreender" muita gente. O resultado foi, de novo, o descalabro”.
Bruno Cardoso Reis no blog Amigo do Povo, acha que há demagoaia a mais por aí e exclama:
“Durante anos um dos grandes escândalos nacionais era a fuga ao fisco. Os governos eram suspeitos de cumplicidade. Agora o grande escândalo é que a descida do deficit seja conseguido em parte pela maior eficiência fiscal!!! Realmente...”
E na recta final deste segundo olhar, um apontamento critico à Comunicação Social de Rui Costa Pinto no Mais Actual:
“O ambiente de futebolização do debate parlamentar sobre o Orçamento de Estado para 2008 revela o caos a que chegou uma certa Comunicação Social”.
Tem razão. Mas para um sorriso de final de dia, vou buscar Waldorf no Blog dos Marretas:
“Teixeira dos Santos prevê baixar impostos só em 2010. Ou seja, depois das próximas Legislativas”.
Titula o blog: “Se lá chegares como ministro...”

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Pólvora seca

O dia do duelo, o dia do debate, o dia do orçamento – como lhe queiram chamar. Ontem foi o dia em que José Sócrates foi abrir o debate sobre o Orçamento de Estado e ao mesmo tempo reencontrar o seu velho rival Pedro Santana Lopes. A blogoesfera esteve atenta, e começo por notar esta definição muito curiosa da Assembleia pela pena de João Gonçalves no Portugal dos Pequeninos:
“O Parlamento é uma espécie de condomínio fechado com os mesmos porteiros e seguranças há trinta e tal anos. Muda apenas o administrador. Agora é Sócrates. Há dois anos e meio que repete, com sucesso, a mesma lição”.
Ontem, no entanto, a lição tinha pela frente Santana Lopes. Chamaram àquilo um duelo mas Ana Rita Ferreira, no blog Margem Esquerda, fez bem a síntese:
“O Benfica-Sporting de hoje, que devia ter tido lugar no Parlamento, foi um flop. Mas só quem não conhecesse Santana Lopes podia esperar algo diferente... Como sempre, não fez o "trabalho de casa" e foi superficial. Com ele a dirigir o grupo parlamentar do PSD, Sócrates vai ganhar sempre por falta de comparência do adversário”.
Daniel Oliveira concorda, no Arrastão: “A notícia do renascimento de Santana foi manifestamente exagerada”, afirma, e acrescenta: “Santana não esteve mal. Esteve só igual a si próprio. Sócrates fez o que se esperava”.
Ainda à esquerda, Miguel Portas no blog Sem Muros:
“Dos dois lados, foi uma tristeza. Sem novidade, e reeditando mil debates onde os socialistas lançam as responsabilidades sobre quem já as teve e os sociais democratas sacodem a água do capote. Como comentou Francisco Louçã, “tinhamos a promessa de um duelo ao sol e está na altura de devolverem os bilhetes”…”
Miguel analisa depois em detalhe o Orçamento, vale a pena ler o longo texto que está no blog.
Mais à direita, José Pacheco Pereira no Abrupto recupera o programa Prós e Contras, onde se antecipou o debate do Orçamento, e exclama:
“O Prós e Contras revela involuntariamente uma verdade maior: há hoje menos oposição em Portugal do que há uns meses, no que verdadeiramente conta, no que dói ao PS e ao governo”. E recorda as propostas de entendimento entre PSD e PS deixadas no ar há dois dias por Luís Filipe Menezes.
Parece ser esse, afinal, o problema de fundo que marcou a apresentação do Orçamento: José Sócrates continua a governar sem oposição, ou apenas com um vago fogo-de-artifício à direita. Fogo-fátuo, como em geral a blogoesfera notou.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Sinistralidades

Uma infeliz sequência de acidentes de trânsito graves devolve à praça pública o debate sobre a sinistralidade, e as medidas que governos sucessivos têm tomado e que resultam, em geral, em mais multas e receitas para o Estado. No resto, como se vê, nada muda.
Procuro no blogoesfera reflexões sobre o tema e acabo por descobrir blogues que se dedicam, justamente, às causas e coisas do trânsito e da estrada.
“Menos um Carro”, por exemplo, assume-se como um “blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas” – e é lá que percebo que a politica de pura caça à multa têm mesmo apoiantes:
“Tudo o que tem sido feito em termos de prevenção rodoviária (campanhas choque, tolerâncias zero, fiscalização mais apertada, penas mais elevadas (...), radares, etc...) tem valido a pena, invalidando assim as críticas de muita gente que gosta de pôr as culpas no mau estado das estradas e outros lugares-comuns semelhantes”.
Num sentido bem diferente descubro o blogue de Penim Redondo, Radares 50-80, onde está o apelo “Multados, irritados, fartos de arbitrariedades e cansados de engarrafamentos, UNI-VOS”.
Parece a brincar mas é a sério: o autor assume o politicamente menos correcto e olha os factos de outra forma:
“O lamentável acidente (...), junto ao Terreiro do Paço, (...) foi imediatamente aproveitado para uma campanha despudorada por parte dos fundamentalistas do costume. Sem cuidar de esclarecer as circunstâncias e causas do acidente, (...) partiu-se imediatamente para as acusações do costume aos automobilistas em geral, para a divulgação de números falaciosos e para a apresentação das soluções milagrosas.”
Menos habitual, mas muito certeira, é a reflexão que a jornalista Helena Matos deixa no blog Blasfémias:
“Os jornais de referência, escreve, têm um entendimento snob da vida. Assaltos e atropelamentos são coisas que não lhes interessam. A não ser que o assaltado seja um banco ou que o atropelamento aconteça no Terreiro do Paço. Infelizmente o que aconteceu este fim-de-semama no Terreiro do Paço está longe de ser um facto inédito. Inédito é causar indignação. E ser notícia destacada. Experimente-se colocar a palavra atropelamento no site do "Correio da Manhã" e descobrem-se inúmeros casos similares”.
Helena Matos exibe de seguida uma lista generosa de casos semelhantes que não foram notícia porque se passaram longe de Lisboa.
Já o acidente de ontem na A23 seria necessariamente notícia pela sua dimensão e não cabe nesta análise até por não ter ainda reflexos na blogoesfera.
No fim, acabo por parar e pensar neste testemunho de uma professora no blog “Da Planície”:
“Hoje, durante uma saída com os meus alunos, precisávamos de atravessar uma rua e eu fazia as recomendações habituais de irmos passar numa passadeira para peões, apesar de tornar o caminho mais longo. E diz-me logo um, que é o mais espevitado de todos "Oh professora, isso nem vale a pena porque o meu pai diz que os carros até gostam mais de passar por cima de quem vai nas passadeiras!". Fiquei de cara à banda”.
Não é caso para menos. Em escassos 5 dias, 3 acidentes reabrem o debate e deixam tudo em aberto: estado das ruas e estradas, politicas de prevenção, caça à multa. Tudo de novo em cima da mesa.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

As fitas que se fazem

Começo já por usar um blog para introduzir o tema do dia:
“O filme "Corrupção" cheira a esturro desde que se começou a falar dele. João Botelho aceitou a encomenda e gastou quilómetros de fita para fixar para a posteridade o manhoso livrito de uma tal Carolina” - assim escreve José Teófilo Duarte no Blog Operatório, e bem. O filme, que entretanto já não é de Botelho, a quem dá muito jeito ser e não ser ao mesmo tempo, estreou finalmente e já andam ideias e opiniões à solta na blogoesfera.
Começo a norte, com Manuel Queiroz no novo blog Bússola:
“Basicamente não há trama, o enredo é paupérrimo - ao nível do que já se sabia. O futebol não existe, não aparece um jogador - o que se tomaria por uma opção para que a "coisa" fosse sobre o país. Mas acaba por não ser nada”.
Luiz Carvalho, no blog Instante Fatal, gostou de “Corrupção”: ”é tecnicamente muito bom. Tem uma excelente fotografia que nos quer remeter para o ambiente dos filmes negros dos anos cinquenta”. (...) É um filme que se deixa ver”, remata o fotógrafo.
GK, no blog My Dirty Little Secret, é radical: “falso, mau, mal feito! Uma fantochada”.
Claro que no meio destas opiniões há sempre um sentimento que pode ser clubista, de Benfica versus Porto ou de Sul versus Norte.
Manuel Correia, no blog Puxa Palavra, prefere ir pela aparente polémica entre o realizador Botelho, rapaz de esquerda, e o produtor. Depois de dizer aqui d’el rei que não assino o filme, “realizador e produtor estão em negociações. Parece que tudo se resolverá no silêncio dos escritórios de advogados, mais cheque, menos cheque... A dignidade do trabalho não parece ter sido considerada...”
Pois é. São as pequenas falhas que ficam no ar neste argumento para este outro filme. E fecho a ronda com uma primeira impressão de um profissional: João Lopes, no blog Sound-vision:
“Corrupção é um filme sem destino, sem objectivo, sem identidade. Não sabemos se o filme de João Botelho seria "melhor" ou "pior". O certo é que, com o afastamento do realizador e o lançamento desta versão de produtor, o que resta é um amontoado desconexo e esburacado de cenas que apelam a qualquer coisa de inevitavelmente falso. Ou seja: pede-se ao espectador que construa na sua cabeça uma história "portuguesa" a partir de alusões que não chegam a sê-lo... No genérico de abertura, não há identificação de realizador ou argumentista; no final, diz-se mesmo que o filme alterou a "realidade" e até o próprio livro de Carolina Salgado. Quer isto dizer que a verdade material de Corrupção só se pode medir pelo facto de, através do seu nome, se venderem bilhetes de cinema”.
Vender, parece que vendem. No fim, o produtor, o realizador Botelho, a inspiradora Carolina, todos serão felizes para sempre. Como nos filmes...
PS - Por lapso, ao gravar o texto para a rádio, nesta citação final, em vez de João Lopes disse João Botelho... Um erro de que só me apercebi no podcast, tarde demais... Desculpas a ambos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Blog da semana: António Sousa Homem

Já esta semana deixei no ar a questão: até que ponto os leitores de cronistas de jornal não podem deixar de comprar a imprensa sabendo que podem ler os seus autores favoritos na blogoesfera e gratuitamente.
O meu blog da semana é um desses casos: é o blog de António Sousa Homem, cronista já de certa idade (nasceu em 1920), homem do Norte que vive em Modelo e é advogado de profissão.
Sousa Homem publica semanalmente na revista de sábado do Diário de Noticias e é um dos argumentos de venda mais sólidos da própria revista e do jornal ao sábado.
Diz-se que Sousa Homem não existe, que é pseudónimo de um conhecido escritor, mas para o caso isso não interessa nada: as crónicas da personagem são do melhor que se publica actualmente na imprensa portuguesa, e se a figura é inventada então é mesmo muito bem inventada.
Vantagem do blog: todas as crónicas do autor são ali publicadas no mesmo dia em que saem no jornal.
“A vida não acaba, escrevia Sousa Homem no sábado passado. O meu tio Alberto, bibliófilo de São Pedro de Arcos, considerava largamente que depois de um dia, outro dia havia de chegar. Com este princípio, que ele dizia ser arran­cado à inteligência do Minho, apontava o mundo de colinas, vales, ravinas enclausuradas, lagoas no sopé das serras – enfim, o mundo de São Pedro de Arcos, aquele a quem devo­tou a sua sensibilidade de poeta nunca publicado”.Num estilo literário muito agarrado às imagens do campo, às memórias e aos cheiros do passado, o cronista ainda assim reflecte sobre o país actual. Escreve por exemplo:
“Portugal vive empenhado em pagar direitos de autor a cavalheiros que escrevem uns livros vagamente parecidos com romances, e a senhoras que – se vivessem noutra época – resolveriam o problema com uma ida mais frequente ao confessionário (…) Diante do vastíssimo número de escritores de hoje em dia, o velho doutor Homem, meu pai, colocaria a hipótese de cha­mar pela polícia de costumes, uma velharia já no seu tempo. Mas a intenção fica. A vida não acaba, como filosoficamente considerava o tio Alberto, mas os escritores multiplicam-se bravamente. Por mim, leio cada vez mais devagar e tenho de escolher os livros da mesa-de-cabeceira”.Este era o remate da crónica do ultimo sábado, amanhã lá estará nova crónica de Sousa Homem, o autor que ninguém sabe se existe mas que, na verdade, é bem real na blogoesfera em antonio-sousa-homem.blogspot.com.
“Em certos aspectos”, como ele “diz”, parte do Diário de Noticias de sábado está ali, naquele livro virtual que todas as semana se constrói.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Domingo no rádio

No próximo domingo, dia 4 de Novembro, entre as 11:00 e as 12:00, na Antena 1 (www.rtp.pt), vou conversar com a Shaken e Lapis-Lázuli, ou melhor, a Sofia e a Raquel, duas das sete autoras do blog "Lésbicas: simples ou com gelo?" (http://lesbicasimples.blogspot.com).

Um só post

O Procurador-Geral da República foi ouvido ontem na Assembleia da República sobre a questão das escutas telefónicas, na sequência das declarações que deu ao semanário Sol onde afirmava achar que "as escutas em Portugal são feitas exageradamente" e confessou: "Eu próprio tenho muitas dúvidas que não tenha telefones sob escuta. Como é que vou lidar com isso? Não sei. Como vou controlar isto? Não sei. Penso que tenho um telemóvel sob escuta. Às vezes faz uns barulhos esquisitos".
Logo no dia seguinte, abri a Janela aos comentários da blogoesfera, que não se cansou de ironizar à volta dos barulhos esquisitos.
Deixei de fora, no entanto, o post mais relevante que li sobre a matéria, aquele que, escrito por alguém que está profundamente por dentro do meio da justiça, sabe do que fala e sabe como fala. Deixei de fora porque sabia que mais tarde ou mais cedo faria sentido trazê-lo à antena com calma e com disponibilidade para todos os ouvirmos. Seria agora, depois do PGR ir à Assembleia.
Porque vale mesmo a pena perceber os contornos do caso, aqui vai, então, na íntegra, o que sobre esta matéria escreveu Vieira do Mar no blog Controversa Maresia: “As polémicas declarações de Pinto Monteiro devem ser entendidas à luz de um pequeno pormenor de que muitos parecem estar a esquecer-se: o senhor é juiz de carreira, não é procurador. O que faz toda a diferença. Tradicionalmente, estas duas magistraturas opõe-se, chateiam-se mutuamente e não se gramam nem um bocadinho. Os juízes, não suportam ter procuradores à perna que lhes controlam a toda a hora a legalidade das decisões (…), nem lhes perdoam que, no final de um curso que é conjunto, aqueles tenham optado deliberadamente por uma carreira no Ministério Público, assim desdenhando da suposta superioridade social e profissional da magistratura judicial. Os procuradores, por sua vez, não gostam de ser mandados nem de estar sujeitos aos caprichos e à agenda dos juízes com quem trabalham, sendo que muitos se arrependem mais tarde de não terem seguido a judicatura, pois assim poderiam, eles próprios, mandar mais (e ganhar mais). Pinto Monteiro é alguém a quem foi dada a chave de uma casa de cujos ocupantes não gosta - ou dos quais, no mínimo, desconfia - e que naturalmente hostiliza. Ele está ali com um fim: o de pôr ordem na dita casa através de uma vassourada valente nos condes e nas marquesas, e através do controlo que pretende exercer sobre os procuradores e as polícias de investigação em geral. Fala, publicamente, não como um Procurador-Geral, mas como um juiz, ou seja, fala com a arrogância e o desprendimento próprios de quem sempre gozou de irresponsabilidade no exercício da sua função de mandar (no fundo, uma atitude ou uma forma de estar equivalente àquela a que, na gíria e em tom de brincadeira, chamamos juizite aguda). De uma coisa, no entanto, desconfio que não poderemos vir a acusá-lo: de corporativismo. Eis um PGR que não parece especialmente interessado em defender os interesses da classe - quanto mais não seja porque esta classe não é a sua.”
E assim, duma só vez, ficamos todos a perceber o que está em causa e por que razão a polémica chegou ontem ao Parlamento. Foi num blog que li. Está lido.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Eles hadem, diz Berardo

Onde anda Joe Berardo, já se sabe o que se encontra: polémica em dose generosa. Ontem à noite cumpriu-se a premissa em mais uma edição do Prós e Contras, desta vez sobre a proposta de fusão do BPI com o Millenium BCP.
De um lado, Fernando Ulrich, do outro o comendador Berardo, e pode dizer-se que por aqui ficou o programa. A blogoesfera concorda, a ver pelos posts que encontro sobre o tema:
JCS, no blog Lobi, mete-se com a forma de falar de Berardo:
“Se você quer pôr toda a gente a falar espanhol na ibéria... - disse Joe Berardo a Fernando Ulrich, aludindo aos accionistas espanhóis presentes no capital do BPI. Até estamos com Berardo neste receio. Mas o que sugere o Joe? Que se fale aquela sua mescla de português, inglês, baba e degustação de amendoins?”
Igualmente forte, o post de Saulus Lúpus no blog Bujardas Negras:
“O tempo verbal hadem, do verbo hader, foi criado pelo Sir Joe Berardo, (...) durante a sua participação no debate do "Prós e Contras" (...). Pequenos detalhes da nossa história que o Bujardas tem o prazer de vos transmitir. Não se esqueçam: "Hadem". Muito dinheiro - pouco cérebro, é a receita ideal para fazer progredir este nosso linguajar, que em tempos foi chamado de "Língua de Camões".
Num olhar mais sério e interessado, encontro Helder no blog Insurgente:
“Não tenho um mínimo de respeito por qualquer empresário que se sirva do estado. Há dezasseis anos que sou cliente do BCP, há dez que sou accionista (...), mas se a opinião do Joe Berardo valer alguma coisa, salto fora. Não quero fazer parte de nenhum clube que tenha como sócio tal gente”.
Já Gabriel, no blog Blasfémias, pede explicações:
“O BPI e o BCP são entidades privadas. José Berardo é um accionista do BCP. O que é que estão a fazer na televisão? O que é que há ali para «peixeirar» que não tenha de ser resolvido no interior de uma administração ou de uma assembleia geral? Que interesse tem aquilo? Quem quer ver aqueles momentos de conversa de tão mau gosto? Às vezes ainda se entende que quem tem de viver da praça pública tenha de fazer e suportar certas coisas em público. Agora, Fernando Ulrich, está ali a fazer o quê?”
João Villalobos, no blog Corta Fitas, tinha adivinhado tudo umas horas antes:
“Se os senhores se portarem bem, daqui a meia-hora não há ninguém acordado ou sintonizado na RTP1. Se os senhores se portarem mal, há peixeirada de envergonhar as veteranas da Ribeira e audiências superiores às do «Casamento de Sonho». Ganhar, só ganham juízo. E mesmo assim a ver vamos.”Quando o programa chegou ao fim, parece-me que ficou a meio caminho: entre o sono e a peixeirada, ou melhor, entre o nada e o coisa nenhuma.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Crónicas em papel e em blog

A pergunta é legítima: será que ao disponibilizarem, gratuitamente, nos seus blogues, os artigos que publicam nos jornais, os cronistas não estão a esvaziar a imprensa tradicional do seu valor de mercado?
Na verdade, de Pacheco Pereira a João Miranda, passando por João Pereira Coutinho ou António Sousa Homem, cada vez mais há colunistas de imprensa que, poucas horas depois de publicarem em jornais, colocam nos blogues os textos publicados.
Ora, se eu compro, por exemplo, o Público, ao sábado, apenas para ler Pacheco Pereira, posso deixar de gastar 1,25 euros e basta-me para isso esperar umas horas até que a sua crónica apareça no blogue “Abrupto”, onde a poderei ler e guardar em papel sem gastar um cêntimo...
Esta é, naturalmente, uma reflexão que jornais e autores podem vir a fazer.
Outra, bem diferente, é aquela que vira do avesso a lógica da leitura. Exemplo: como todos os sábados, comprei o Expresso e li, ao longo do fim-de-semana, o que mais me chamou a atenção ou me interessou. Provavelmente hoje, segunda-feira, o jornal iniciaria o seu processo de falência e morte natural. Mas eis que, por causa de um blogue, 2 artigos que provavelmente me passariam ao lado, são repentinamente alvo da minha atenção.
João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos, acordou-me para os dois textos:
“O suplemento "cultural" do Expresso, escreveu ele, vale apenas porque intermitentemente insere bons artigos, coisas para pensar. O resto é sempre pequenas prosas por pequenos tartufos. Esta semana valem os textos de Nuno Crato sobre o ensino da matemática no "básico" (não adianta andar a distribuir computadores quando o sistema prepara mentecaptos através de facilitismos estéreis espelhados em regulamentos que querem dizer nada) e de Joaquim Manuel Magalhães sobre o regime, o "socratismo" da felicidade que espreita à esquina. (...) Ficam "algumas palavras" do Joaquim, de uma crónica terrivelmente intitulada "Derrocada": «(...) Destroem a classe média, precisamente aquela de onde, quando não sujeita às extremas pressões das insuficiências, quase sempre vi irromper as aberturas civilizacionais mais consistentes. Esta, não tendo para onde se voltar (já experimentou todos os partidos desta democracia), aceitará um dia politicamente o quê? Se é o espaço fundamental das conquistas democráticas, rapidamente também se torna o espaço da derrocada das próprias democracias. O nosso sistema político não estará já perigosamente em causa?»
Li o post e fui a correr recuperar o suplemento Actual do Expresso para ler os dois artigos, que são realmente relevantes e marcam os dias que passam. Poucas horas depois, no mesmo blog, eram disponibilizados na íntegra os textos originais.
O que resulta daqui?
Duas ideias: primeira, a de que a blogoesfera, quando tem credibilidade e inspira confiança, nos pode devolver aos jornais e forçar a olhar de novo para eles; segunda, a de que é essencial reflectir com precisão e rigor sobre esta relação entre jornais e blogues. Nalguns casos, por causa de um blog não lemos um jornal. Noutros, exactamente o contrário. Veremos o que o futuro nos reserva.

sábado, 27 de outubro de 2007

Domingo no rádio

No próximo domingo, entre as 11 e as 12:00, Na Antena Um, converso com Pedro Lauret, capitão de mar e guerra, membro da Associação 25 de Abril, editor do blog "Avenida da Liberdade" (http://www.avenidadaliberdade.org).

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Blog da Semana: "Da Literatura"

Chama-se Da Literatura e tudo indicaria que se trata de um blog dedicado aos livros, às letras. Redondo engano – e talvez por isso, uma escolha da semana.
“Da Literatura”, então. Poeta, ficcionista, ensaísta e crítico literário, actualmente ligado ao jornal Público, Eduardo Pitta é o autor deste blog, ainda que por lá apareça também o nome de João Paulo Sousa.
Bom, quem o alimenta é mesmo o poeta, assumo portanto que o blog é dele. Por que o integro na escolha do meu blog da semana? Bom, porque é um blog alargado na perspectiva, no horizonte, e que revela muito do seu autor. Quem goste de ler a poesia de Eduardo Pitta, ou quem acompanhe o seu percurso no jornalismo, tem aqui uma espécie de visita guiada à casa do autor. Sendo certo que é um homem com múltiplos interesses. Apesar do nome “Da Literatura”, o que lé se encontra são bons textos para ler. Seja sobre politica – ainda esta semana chamou "watergatezito" ao desabafo de Pinto Monteiro sobre as escutas telefónicas – mas também sobre o mundo internacional, a arte, o cinema, os livros, a vida.
Vale a pena, por exemplo, recuperar e ler a série de textos sobre Roma vista por Eduardo Pitta: uma cidade para lá da capital turística, uma cidade com pessoas e bairros e graffitis nas paredes e gente simpática e bonita e afável:
“Para o melhor e para o pior, a capital italiana é uma cidade do século XIX. Seria longo explicar porquê. Quem conhece, sabe do que falo. Quem não conhece, devia ir conhecer”. E entretanto ler a reportagem em partes do poeta e escritor. Fiquei com vontade de voltar a Roma…
No blog de Eduardo Pitta há espaço para o desabafo particular, o ensaio aprofundado, a reflexão ou o apontamento critico, como este que me levou a querer confirmar no cinema se faz sentido ou não:
“Jodie Foster, escreve Pitta, deu no goto à bem-pensânsia. Há muitos anos que cada novo filme seu chega envolto em tese. O mais recente, The Brave One, que entre nós se chama A Estranha em Mim, nem como telefilme da série B se safa. (…) Com boas intenções nunca se fez arte. É mesmo como cinema que a história de Erica Bain é um flop.”
“Da Literatura” se chama então este meu blog da semana – um diário, um jornal, tudo isso e um pouco mais no universo de gostos e interesses de um poeta e escritor. Vale a pena conhecer.

Preto e branco

A polémica começou quando o Prémio Nobel James Watson disse acreditar que os negros são menos inteligentes do que os brancos. O “Sunday Times” publicou as declarações e daí para a frente foi o disparate dos disparates, com toda a espécie de comentários. O senhor já pediu desculpa pelo que disse, mas a festa continua… Luis M. Jorge no blogue Vida Breve analisou os diversos tipos de reacção:
“A boutade do cientista James Watson, se teve algum mérito, foi o de nos revelar mais uma vez os fundamentos simbólicos da segmentação política: a desigualdade horroriza a esquerda, mesmo que provenha (principalmente quando provém) da natureza; já o outro, o estranho, o fraco, o estrangeiro, o muçulmano, o homossexual, o negro, fazem eriçar os instintos tribais de protecção que formam a perturbadora identidade da direita. De um lado a inveja, do outro o medo. Caminhamos em territórios familiares”.
Entretanto o cientista, além das humilhações publicas, viu canceladas conferências e de alguma forma limitadas as suas palavras.
Rui Ângelo Araújo, no blog Canhões de Navarone, vai atrás das sequelas do caso. Concorda que não se deve silenciar James Watson. Só que, escreve, “ninguém silenciou o homem. Cancelaram-se conferências, o que é um bocadinho diferente. (…) Não me ocorre proibir estudos sobre a inteligência dos pretos, das mulheres, dos gordos ou até dos níveos plumitivos portugueses. Mas, por favor, deixem-me pelo menos rir à vontade de quem propõe que a inteligência é negativamente afectada pela cor da pele, a vagina ou uns quilos a mais”
Pedro Sales, no blog Zero de Conduta recoloca a questão onde ela nasceu:
“James Watson, continuando o seu historial de proclamações polémicas na véspera do lançamento dos seus livros, tentou vender a banha da cobra. Escolheu uma polémica garantida. Não existe nenhum "tabu", como insinua José Manuel Fernandes (no jornal Publico), na conclusão científica de James Watson. O problema é que ela não é científica, mas vende a ciência para se legitimar e defender o mais profundo dos estigmas racistas”.
Sobre ciência, estudos e este tema, vale a pena dar um salto ao blog Cinco Dias, onde está um bem estruturado texto de Vasco Barreto, e outro de Sérgio Lavos, no blog Autoretrato – ambos demasiado complexos para em rádio os conseguir resumir.
Já num sentido oposto aparece o filósofo Desidério Murcho no blog Rerum Natura:“Watson, escreve, pode estar a ser vítima do “politicamente correcto”. Hoje é proibido pensar que as pessoas podem ser diferentes umas das outras em capacidades cognitivas, sendo tais diferenças correlativas às suas origens genéticas. Tal como é proibido dizer que o aquecimento global não é provocado pelos seres humanos. A proibição em si é grave.”
Vai em grande a polémica...
Não tendo nada a ver com o tema, mas sendo uma nota de humor relacionada com a raça, cá vai uma das ultimas de Rodrigo Moita de Deus no blogue 31 da Armada:
“Leio no Diário de Notícias que um deputado Angolano foi eleito para o parlamento Suiço. Suiça, repito. Em Portugal, país dos pantones, a nossa assembleia é de uma assustadora lividez.”
É sim senhor. E com esta me vou, para voltar amanhã.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O povo retirado da equação?

“Teremos referendo ou o povo vai ser retirado da equação?” – a pergunta, assim colocada por Miguel Portas no blog Sem Muros, dá o mote ao amplo debate que vai na blogoesfera sobre a ratificação do Tratado de Lisboa.
Como se não bastasse a delicadeza do tema em si, chegou agora o distinto Vital Moreira no blog Causa Nossa e escreveu:
"Os que defendem o referendo sobre o Tratado de Lisboa já experimentaram
lê-lo? E acham que algum cidadão comum consegue passar da segunda página? Não será tempo de deixar de brincar aos referendos?"
E pronto: caiu-lhe meio mundo em cima. Rui Cerdeira Branco no blog Adufe chamou-lhe paternalista e comentou:
“Serve essa complexidade agora de pretexto para desvalorizar e ridicularizar o exercício político por via referendária. O caminho que cegamente se trilha levará invariavelmente a um "Fiquem lá com a Europa que nós vamos por outro lado."
E remata: “Haja referendo porque SIM é cada vez mais uma excelente razão
. Tão boa como porque NÃO”.
Paulo Pinto Mascarenhas no blog da revista Atlântico concorda:
“Sem euroexcitamentos ou eurodepressões, acho que o referendo, agora que o tratado está aprovado, seria uma belíssima oportunidade para se discutir que lugar quer ocupar Portugal. Na Europa e no Mundo. Para votar “Sim”, porque não vejo a soberania em risco.”
Procurei alguém que dissesse não ao referendo e encontrei: Sebastião, no blog o Conserto das Nações, dá 3 razões para não referendar o Tratado:
Primeira, “a proliferação de referendos não me parece muito recomendável numa democracia representativa”. Segunda, “as campanhas referendárias tendem a assumir a forma de debates partidários e não de discussões sobre o que se pretende ratificar”. Terceira, “a política externa é tradicionalmente uma área opaca, que a generalidade da população conhece mal”.
Lá está a velha teoria: deixemos o povo em paz, ele não sabe do que fala...
Sofia Loureiro dos Santos tenta, no blog “Defender o quadrado”, explicar a lógica do Governo:
“Sócrates prometeu o referendo
em campanha eleitoral; nos últimos tempos tem tentado recuar, com receio que o resultado do referendo seja desfavorável, estando aliás em acerto com o Presidente da República”. Mas depois atira-se às contradições do habitual Abrupto:
“Para Pacheco Pereira, se Sócrates não quiser referendar está mal, pois desrespeita o povo que o elegeu, diminui a democracia e afasta os cidadãos dos governantes; se Sócrates referendar também está mal, porque o faz apenas e só porque daí tirará dividendos políticos internos, ganhando pela dúbia posição do PSD. Pacheco Pereira entrou em delírio, em plena esquizofrenia (ou desonestidade?) intelectual”.
E é assim que estamos, debatendo o referendo antes mesmo de debater o tratado.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Estranhos ruídos ruidosos

Ruídos estranhos - estará o auditório da Antena Um a ouvir ruídos estranhos neste preciso momento? Esperemos que não.
Mas fica o aviso: além do Procurador Geral da Republica, a blogoesfera também anda a ouvir ruídos estranhos desde que, no sábado, numa entrevista de imprensa, o Dr. Pinto Monteiro confessou que não estava seguro de que o seu telefone não possa estar sob escuta...
José António Barreiros, no blog Revolta das palavras sugere que o Procurador se queixe... a ele próprio. E pergunta: “Mas será que ele acredita que o PGR tem força e poder para conseguir evitar que lhe ponham o telefone sob escuta?”
Mais irónico ainda, José Teófilo Duarte, no Blog operatório, não acredita na tese da escuta: “Não estará com certeza a ser escutado, escreve. Sempre é o Procurador-geral da República. Em vez de se ir queixar para a comunicação social, não fazia melhor figura se fosse pôr o telemóvel a reparar?”
Rui Costa Pinto acha da “maior gravidade”, no blog Mais actual, a declaração do procurador e escreve: “A Lei não permite que os serviços de informações, ainda que dependentes do primeiro-ministro de Portugal, façam escutas. O que quererá dizer o PGR? Que os serviços de informações fazem escutas ilegais? (...) A entrevista de Pinto Monteiro não pode cair em saco roto. Não é normal um Procurador-Geral da República vir a público manifestar tal dúvida e fazer questão de dizer que não tem medo de ninguém”.
David Dinis, no blog O Insubmisso, nota uma coincidência relevante:
“O mais estranho na entrevista de Pinto Monteiro ao "Sol" não são os duques que ele diz que lhe saíram na rifa, nem as escutas que garante não controlar. É o facto de dizer isso apenas uns dias depois de ter ido a Belém conversar com Cavaco Silva. Ninguém me convence que não há uma carta escondida neste poker à Monteiro”.
Que carta pode ser essa?
Não sei, sinceramente. Mas não posso deixar de estar de acordo com Miguel Abrantes quando, no blog Câmara Corporativa, e sobre este tema, alarga a questão às ideias gerais do Procurador e escreve;
“Maior consternação está a causar a referência do procurador-geral da República ao baronato do Ministério Público, sempre sequioso de mordomias, rebelde à hierarquia e, em muitos casos, altamente preguiçoso (...). Apesar de estar há um ano à frente do Ministério Público, foi nesta magistratura que Pinto Monteiro começou a sua carreira e certamente sabe do que fala. Feito o diagnóstico, só resta esperar pela terapêutica”.
A saber: a questão das escutas é mais soundbyte do que matéria de fundo, mas nesse caso como no do funcionamento do Ministério Publico, se o Procurador tem o diagnóstico, o povo aguarda a cura dos males maiores.

"Porreiro, pá!". Porreiro, pá?

Uma busca de Internet rapidamente chegaria a essa obtusa conclusão: a expressão mais usada em língua portuguesa neste fim de semana na blogoesfera foi, obviamente, “Porreiro, pá!”.
Um descuido feliz – raro acontecer, não é? – dizia, um descuido feliz do primeiro ministro depois de uma longa maratona diplomática originou essa propagação imediata da expressão que José Sócrates segredou a Durão Barroso mas foi ouvida por todos.
Vamos ver o que encontro na blogoesfera…
Bruno Alves no blog Insurgente desvaloriza os acordos europeus:
“Sócrates quer fazer da “sua” Presidência da UE um sucesso aos olhos da “Europa”, para mais uma vez se engrandecer aos olhos dos eleitores nativos. Veja-se o que se passou esta semana: Portugal perde poderes no quadro institucional da UE, e não há uma palavra do Primeiro-Ministro sobre o assunto. A UE dá um gigantesco salto em frente, e não há uma reflexão do Primeiro-Ministro. Apenas se ouvem da sua parte (…) a sua habitual frase de que “este é um momento histórico”
Bruno Cardoso Reis no blog Amigo do Povo é mais optimista e crédulo. Escreve:
“Sinto-me tentado a acreditar (…) que Portugal nunca teve tanto peso efectivo no coração Europa como hoje. (…) Ilusões, dirão. Independência, independência - soberania mesmo face à Europa - era com Salazar. Tal seria, suponho, quando a tropa portuguesa andava a combater em África com camiões e metralhadoras alemãs e helicópteros franceses. Ou então talvez, logo depois, quando o pessoal revolucionário, que agora se reciclou em bloco, rebentou soberanamente com a economia de tal maneira que pôs o FMI a mandar cá em vez do BCE. Bons tempos, dirão! Talvez. E que tal fazer um referendinho sobre o assunto?”.
Valupi, no blog Aspirina B, certamente concordaria porque acrescenta: “A bebedeira da imbecilidade não vai conseguir entornar o facto: a presidência portuguesa esteve à altura do desafio, ou terá superado as expectativas, mostrando capacidades técnica e política irrepreensíveis”
O jornalista João Pedro Henriques, no blog Glória Facil, observa que
"José Pacheco Pereira já produziu 27 posts intitulados "A fuga em frente da Europa", mas nada de comentar o Tratado de Lisboa". Aliás, vai-se ao blog Abrupto e o que se encontra por lá são opiniões dos leitores do blog. Um exemplo, o de Telmo Martins que aproveita o blog de Pacheco para pedir de joelhos:
“Afinal alguém me aclara quantos Tratados foram assinados nestes dois últimos dias!? A julgar pela massiva difusão televisiva parece tratar-se de vários! Quais as implicações que acarretam para a vida dos povos europeus em geral, e para os portugueses em particular, para os 200 mil que estiveram na rua e para os outros que não estiveram”… Perguntas, tantas perguntas…
Na verdade, parece evidente que o Tratado de Lisboa é documento que ninguém conhece. Também parece óbvio que, ainda assim, merece palpites e opiniões de todos.
Por mim, vou estar atento à blogoesfera - a ver se por ela saberei melhor e mais claramente o que por ali se passou no Parque das Nações. Até agora, nada de nada.

domingo, 21 de outubro de 2007

Blog da semana: não um, mas três...

Não um, nem dois, mas três – três blogs que junto para a minha escolha da semana. Não é por acaso que o faço, obviamente: cada um à sua maneira, eles representam um tipo de presença na blogoesfera que demorou tempo a chegar, mas começa enfim a despertar, sem vergonha e com propriedade: falo dos blogues pessoais de políticos.
Toda a gente fala sempre de Pacheco Pereira, o piomeiro da coisa, e logo parece que mais nenhum politico anda na blogoesfera. Mas anda, andam mesmo mais, todos os dias mais. Do que observo, da qualidade e do estilo dos diversos blogs, escolhi três que se completam na sua diversidade: os de António José Seguro, do PS, Miguel Portas, do Bloco de Esquerda, e Pedro Santana Lopes, do PSD.
Para já, todos têm o nome próprio no endereço, apesar de Miguel Portas depois chamar ao seu blog “Sem Muros”. Assume que é um blog pessoal, “embora conte com outras colaborações que serão assinadas. Durante o segundo semestre de 2007 acompanhará, em registo diário, as Europas de que a Europa se faz”
E assim é efectivamente: um blog muito preocupado com a Europa no momento em que Miguel é euro-deputado – mas sem deixar de reflectir e pensar outros temas. Ainda há dois dias lá encontrei um rasgado elogio ao documentário “Guerra”, de Joaquim Furtado.
Noutro registo, porventura mais pedagógico, mas por outro lado com elementos de marketing e e imagem apurados, encontro o blog do deputado socialista António José Seguro. Faz pedagogia explicando o que faz um deputado, marca a actualidade elegendo o positivo e o negativo de cada semana (noto, por exemplo, que deu nota negativa aos dois policias que abalaram a transacta semana sindical...). Tem design - e esse design apura a imagem do politico ao lado da mensagem. Eu diria que é meio blog, meio site. Mas permite conhecer as suas ideias, o seu trabalho, e aferir da sua relação com quem o lê.
Por fim, o blog de Pedro Santana Lopes. É, na minha modesta opinião, o “mais blog” dos 3 blogs – porque reúne em si as melhores características de um meio de comunicação deste tipo: impressionista, imediatista, muito opinativo, absolutamente pessoal, escrito na primeira pessoa. É igual ao seu autor: com repentes, com ataques, com paixão. Santana Lopes pode ter muitos defeitos, mas tem essa qualidade (que na política em geral se paga cara): não vira as costas e é repentista. Um blog é um pouco isso – e nesse sentido o blog dele é exemplar. Um exemplo apenas, no fim do Congresso do PSD. Escreve Santana:
“Domingo, depois de um Congresso muito cansativo, apesar de não ter feito qualquer intervenção. Mas essa foi uma das maiores dificuldades. Explicar às pessoas o porquê dessa decisão. Não é fácil estar presente, sendo ex- Presidente. Ser um militante comum, mas, ao mesmo tempo, ter a noção da responsabilidade especial que se tem de respeitar, sempre. Falar, não falar, estar, não estar, participar, não participar. Ainda por cima, com as constantes, permanentes, solicitações dos jornalistas. Simpáticos e afáveis, mas com uma pressão tal que deve irritar quem vê".
É assim Pedro Santana Lopes, é assim o seu blog.
Os três que escolhi são fáceis de encontrar:
www.miguelportas.net
www.antoniojoseseguro.com
pedrosantanalopes.blogspot.com

São as minhas escolhas para uma semana cheia.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Domingo no rádio

No próximo domingo, entre as 11 e as 12:00, Na Antena Um, converso com Daniel Carrapa, arquitecto, autor do blog "A Barriga de um Arquitecto" (http://abarrigadeumarquitecto.blogspot.com).

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Outras palavras

Quem navegue pela imensa blogoesfera pode apanhar regularmente ataques: de fúria, de riso, de indignação. As caixas de comentários dos blogues espelham isso mesmo – mas com o tempo, pode ganhar-se também uma outra qualidade nestas viagens: o respeito pela opinião alheia, por mais estranha e obtusa que possa parecer. E é interessante pelo menos observar ou pensar em pontos de vista que jamais nos passariam pela cabeça. É por aí que vou hoje com alguns exemplos da semana.
Estamos nos dias em que se assinala o aniversário da morte de Adriano Correia de Oliveira. Evoca-se o artista, o musico, o compositor. Ouve-se de novo Adriano. Mas há quem não o oiça. É o caso de Rui Bebiano, que no blog Terceira Noite explica:
“Ao escutá-las agora, viajo no tempo, recuando ao país-Portugal, sequestrado e em permanente luto, no qual ele viveu quase toda a sua vida. Para mim que ainda conheci esse país, ouvir hoje Adriano é como revisitar uma prisão, como ler as memórias de um torturado, como ver um documentário sobre o país que foi (..). Dói-me e evito fazê-lo. Desculpem”.
Consigo compreender esta postura, apesar de não ser a minha e a de muitos. O mesmo se passa, noutro domínio completamente diferente, com a história dos empréstimos perdoados no BCP a familiares de membros da administração do banco. Toda a gente grita que é escândalo, toda a gente pede a responsabilidade e a cabeça de quem permitiu tal facto. No meio do barulho das luzes encontro um longo texto assinado por Nuno Pombo, no blog Incontinentes Verbais, que de alguma forma contraria a tendência generalizada para arrasar o BCP. Não o vou resumir aqui, é longo, vale a pena ler para ver o tema de outro ponto de vista, mas deixo uma frase que já abre o apetite:
“Considerar uma dívida incobrável não é sinónimo de perdoar uma dívida. O perdão reflecte-se no devedor, ao passo que a insusceptibilidade de cobrança é uma constatação, meramente interna, do credor”.
Mudando novamente de tema, a Cimeira da União Europeia em Lisboa também motiva muitos cmentários. À margem de todos eles, encontro no blog do advogado José Maria Martins uma absolutamente inesperada ideia:
“José Sócrates tem o dever, tem a obrigação de mostrar aos seus homólogos da União Europeia , a miséria que grassa em Portugal. Deve ir mostrar os bairros de lata ainda existentes na Grande Lisboa, deve ir mostrar os bairros onde os idosos vivem arrastando-se, deve ir mostrar o interior, decrépito, paupérrimo". E sugere mais visitas por aquilo a que chama "miséria de Portugal, país que entende ser”enfezado, que se abotoa com os subsídios que a França, a Alemanha, Reino Unido nos mandam , e depois são delapidados, quando deveriam ser aproveitados para nos alavancar para o desenvolvimento”.
Se eu estou de acordo? Não estou. Se acho que faz sentido? Não faz. Mas eu acho um escândalo o que se passou no BCP, e oiço Adriano pensando no país que ele sonhou, e acho que a Europa nos fez bem e nos fará melhor.
O que daqui resulta e é a minha ideia forte de hoje é apenas isto: a blogoesfera, pela sua liberdade total, obriga-nos a pensar noutros pontos de vista. E respeitá-los. E muitas vezes descobrir verdades onde só víamos nuvens, mentiras ou não víamos mesmo nada.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Guerra aberta

O lançamento foi bem feito: debates, reportagens de imprensa, fóruns de rádio: o documentário “Guerra”, que Joaquim Furtado preparou na última dezena de anos, dedicado à Guerra ultramarina portuguesa dos anos 60 e 70, criou enorme expectativa e foi seguramente um recordista de audiência na noite de ontem:
Shyznogud, no blog Womenage a trois, confessava-se expectante, e como ela muitos outros blogs por onde passei. Aliás, a polémica nasceu antes da estreia, com o nome do programa e com o debate no “Prós e Contras” de segunda-feira. Exemplo, que encontrei no blog Grande Loja do Queijo Limiano num texto assinado por José:
“A linguagem em Portugal continua a ser a da Esquerda. E para não se notar muito, Joaquim Furtado capou o termo. Em vez de Ultramar, chamou-se simplesmente Guerra. Não chega. É tempo de perceber que os termos usados para designar as coisas, são os que as designavam no devido tempo. E nesse tempo, era efectivamente Guerra do Ultramar, o termo certo para o acontecimento. Guerra colonial, foi termo apócrifo, divulgado logo depois do 25 de Abril de 1974, pela Esquerda, toda a esquerda, a reboque do PCP e do PS.
Pergunta-se: qual o termo certo, para designar a Guerra em África? A do tempo em que ela decorreu, ou seja, Guerra do Ultramar, ou a do tempo em que se procurou acabar com a mesma, de qualquer maneira, como de facto aconteceu?”
Lançada a polémica, arrancou a exibição do documentário. Vai dar muito que falar, não tenham duvidas. A amostra inicial já diz coisas...
“Vi o primeiro episódio e gostei, escreve Carlos Abreu Amorim no Blasfémias. A série promete. Imagens hiper-realistas, testemunhos credíveis e um fio narrativo fiel aos factos mas muito interessante. O retrato de um país alheado, com uma liderança impreparada que nunca percebeu o ultramar e os seus problemas”.
José António Barreiros no blog Revolta das Palavras adivinha o que aí vem:
“O Joaquim Furtado fez em televisão uma série de episódios que vão rasgar feridas que estão ainda mal saradas na pele dos portugueses. Trata-se da guerra, a do Ultramar, a colonial, a de libertação, a guerra. Uma guerra em que ele procurou não glorificar um dos campos contendores, o que corre o risco de desagradar a todos, aos que sentem merecer em troca do sofrimento os louros de uma medalha, para que tudo não haja sido em vão”.
João Vasconcelos Costa, no Bloco de notas, não perdeu tempo na análise ao arranque da série:
“ Devia esperar, reflectir, amadurecer a escrita, mas não resisto, escreve. Há alturas em que não se pode travar a alma. Parabéns, RTP, parabéns, Joaquim Furtado. Já não era sem tempo. Exorcismo, catarse, informação, cada um verá estes documentários à sua maneira, mas certamente sem a frieza de olhar de revés para telelixo, entre coca cola e pastilha elástica”A guerra colonial apaixona, mexe connosco, mexe com o passado e as convicções e as paixões. Esta série vai mexer com o país – e a primeira amostra aqui ficou.

Modas... e um gato

Com o passar do tempo – já lá vai ano e meio de atenta observação da blogoesfera – noto que há claramente diversas classes de bloggers no activo: os principiantes, os amadores, os profissionais, os esforçados, os veteranos.
Noto esta ideia de veterano, por exemplo, quando leio um post de Rui Cerdeira Branco no blog Adufe em que o autor já recorda os tempos em que a blogoesfera era de poucos e bons e solidários. Escreve ele, sob o título "Leopardos, chacais e marranos":
“Se os tempos fossem outros viria aqui, fazendo eco do post do Leonel Vicente, anunciar a novidade: o Pedro Mexia e o Pedro Lomba atiram-se à política a quatro mãos formando um Gattopardo, mas os tempos são estes e hoje linkar não está a dar.”
Não tarda lerei algures a clássica frase “isto já não é como era dantes”. Na verdade, por causa do post do Adufe lá fui conhecer o novo blog de Pedro Lomba e Pedro Mexia, o Gatto Pardo, cujo estatuto editorial é claro:
“Gattopardo é um blogue sobre política. Não representa ninguém nem presta contas. Não tem as quotas em dia nem pretende. Estuda com fé e realiza com dúvida. Usa consoante dobrada porque é italiano. É tão depressa leopardo como gato pardo. Não confunde um Churchill com um charuto. Não está de acordo com quem concorda connosco.”
O blog promete, claro. Logo ao primeiro take, explica ao novo líder do PSD algo em que ele obviamente não pensara:
“Não precisamos de uma nova Constituição porque esta é a Constituição saída do 25 de Abril. Há quem compreensivelmente não goste disso, quem preferisse desligar o documento da data, quem ache que a democracia podia ter vindo de outra maneira. História virtual é história virtual. A democracia aconteceu com o processo iniciado a 25 de Abril de 1974 e depois concretizado na eleição de uma assembleia constituinte, a aprovação de uma constituição e a realização de eleições legislativas e presidenciais”.
Estarei atento ao Gato Pardo. Mas em dia de novidades, anoto aqui mais uma: já não é só no mundo político que a blogoesfera faz concorrência aos meios de comunicação clássicos na cobertura de eventos. Depois dos Congressos dos Partidos, a moda alastra. E bem. A ultima edição da Moda Lisboa, que se chama Estoril mas ocorreu em Cascais, foi acompanhada dia a dia, com charme e estilo e bom humor, pelo blog Corta-Fitas, através do olhar apurado de Miss Pearls. Queixou-se do calor, recebeu porta-chaves e jornais e revistas, viu bons e maus desfiles, entrevistou estilistas, viu tudo. E contou. Melhor do que a generalidade dos jornais que li. Sem fretes nem enefeites.
Com estas 3 notas faço o dia – entre a moda literal, a moda dos blogues e um blog que vai ser moda à nascença...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O "novo" PSD ainda mais velho

Seria óbvio, claro, começar a semana olhando o Congresso do PSD do ponto de vista da blogoesfera. Desta vez houve pelo menos 2 blogues a acompanhar o evento – Blasfémias e 31 da Armada. Em texto e em vídeo, fizeram a sua cobertura para quem passou o fim de semana ligado à net. Não foi o meu caso, por isso vou picar boas ideias soltas. Começo justamente no 31 da Armada com Rui Castro:
“Menezes deu indicações inequívocas de que vai fazer oposição ao governo pela esquerda. É a fobia que muitos ainda têm em afirmar-se de direita, como se de uma doença se tratasse. Fica, assim, órfã uma fatia considerável do eleitorado”
Paulo Pinto Mascarenhas também apanhou esta ideia no blog da Atlântico: “Segundo repetiu Luís Filipe Menezes, o PSD é “o partido da esquerda democrática”. Depois do PS - o partido da “esquerda moderna” -, do Bloco de Esquerda - o grupo da “esquerda socialista” -; e do PCP - o partido da esquerda comunista -; está explicado o atraso de um país em que só um dos cinco partidos com representação parlamentar diz que não é de esquerda”.
Ainda no 31 da Armada, Alexandre Borges repara que Menezes “fala com um olhar quase tão perdido como o de Bush, de quem não sabe exactamente do que está a falar, mas decorou muito bem”. João Nazaré, no blog Sortido Fino, notou igualmente o olhar de Menezes, que caracterizou como “Salman Rushdie style”.
Fernando Moreira de Sá, no blog Intervenção Maia, viu um líder do PSD “nervoso. Nem parecia que tinha ganho as directas. A sombra de Santana pairou sobre ele”.
Vendo a coisa pelo prisma optimista, que também faz falta, encontro João Miranda no Blasfémias a descobrir algumas boas ideias de Menezes:
“Privatização das águas, autonomia das escolas e controlo por conselhos municipais de educação, separação da saúde privada da pública, programação das obras públicas a muito longo prazo por consenso, acabar com a ERC”, entre outras que ali se registam...
Enquanto isso, Pacheco Pereira manteve o silêncio durante todo o fim-de-semana e promoveu no Abrupto o seu novo livro que reúne justamente textos sobre o PSD. “É a minha contribuição para o Congresso do PSD, escreveu. Pouco me importa se essa contribuição é desejada ou é um incómodo”.
Para contrabalançar a tendência, leio Rui Costa Pinto no blog Mais Actual:
“Luís Filipe Menezes fez um excelente discurso no encerramento do Congresso do PSD. Claro, frontal e com ideias alternativas”.
Luiz Carvalho, fotógrafo que viveu o Congresso por dentro, acha que há ali potencial, mas não no melhor sentido. Escreveu no seu blog Instante Fatal:
“Meneses vai dar cabo da cabeça a Sócrates e vai haver oposição cerrada ao engenheiro. Mas não consigo imaginar esta gente de novo no governo. Algumas destas figuras fazem parte do pesadelo recente de Portugal”.
No fim do Congresso, perece-me que a síntese está com Luís M. Jorge no blog A Vida Breve. Escreve ele:
“O PS deixará de ganhar eleições apenas quando houver, no outro lado, alguém com um pouco de credibilidade. Infelizmente, as bases do Partido Social Democrata não sabem, há muitos anos, o que significa essa palavra. E mal por mal, o povo sempre preferiu um ditador a um desnorteado. Sócrates perderá a maioria absoluta, mas não vai perder o país”.
Por mais voltas que queiramos dar, é algures por aqui, por entre todas estas ideias soltas, que anda a opinião sobre o momento politico que sai deste congresso do PSD.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Domingo no rádio

A partir de agora, e tanto quanto a minha caótica organização o permitir, vou anunciar aqui os meus convidados do prgrama "Pedro Rolo Duarte", que passa ao domingo de manhã, entre as 11:00 e as 12:00, na Antena 1 (e que fica em arquivo sonoro audível, não importável, durante mais ou menos um mês no site http://www.rtp.pt/).

Este domingo, 14 de Outubro, converso com Joáo Pedro Diniz, o autor do blog culinário/gastronómico "Ardeu a Padaria" (http://ardeu-padaria.blogspot.com).

Blog da Semana: "Visto da Economia"

(Excepcionalmente, crónica radiofónica em antestreia aqui, no blog, 17 horas antes de estar no ar...)
Hoje é o dia do Orçamento Geral do Estado – e por essa via achei que a minha escolha para Blog da Semana teria de recair sobre um sitio que se dedicasse à economia, ao mundo das contas e dos números. Infelizmente, este é um universo que, do ponto de vista jornalístico, está minado pelos interesses, pelas relações entre empresas, empresários e jornalistas, e obviamente também pela conjugação de empresas de media e títulos. Por isso, é difícil encontrar uma visão mais independente, ou pelo menos clara.
Encontro-a, então, no blog que escolhi para esta sexta-feira: Visto da Economia. Autora: a jornalista Helena Garrido. Assinatura: “Olhar, reflectir e debater Portugal e o mundo com a visão da economia”
Tem pouco tempo de vida, começou em Julho passado, coincidindo com a Presidência Portuguesa. Helena escreveu então:
“No dia em que se inicia a terceira presidência portuguesa da União Europeia nasce o Visto da Economia. Não podia ser melhor. (...) Vamos ter seis meses muito interessantes pela frente. O governo português tem o sonho de conseguir concretizar o Tratado Reformador, o sonho de ter um Tratado chamado Lisboa. Não é impossível.”
E explicou: “Podemos sempre tentar encontrar regularidades estatísticas para reforçar a expectativa de que é possível. Com excepção de Nice - o último e que é uma das grandes raízes dos actuais problemas na revisão dos tratados - os dois outros, Maastricht e Amesterdão foram assinados em pequenos países. Antes disso, com excepção do tratado fundador em Roma, o Acto Único Europeu que nos deu o mercado único não mereceu o nome de uma cidade mas também tem a sua assinatura ligada a pequenos países.
Independentemente do sonho, a verdade é que Helena Garrido comenta diariamente os passos e o estado da economia, de forma clara, inteligente e simples. E com as ligações que estabelece acaba por conseguir dar ao leitor comum uma perspectiva do que se passa.
Sobre este Orçamento que hoje chega a todo o lado, e que será debatido profundamente nos próximos dias, diz: “Enfrenta uma conjuntura muito mais difícil que o previsto”. E reenvia-nos para outro artigo onde escreve:
“O Orçamento do Estado vai prever um défice inferior aos 3% exigidos por Bruxelas. Mas aquelas que deveriam ser as contas públicas que relançavam a economia e preparavam o PS para a campanha eleitoral de 2009 perspectivam-se bem mais difíceis”.
Entre colaborações noutros meios de informação e os seus próprios posts, Helena constrói quase de raiz um jornal de economia sob a forma de blog. Um olhar inteligente e útil – por isso, naturalmente, o meu blog da semana.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Catalina

Qualquer cidadão comum que tenha acompanhado, de início de forma diária, e depois mais espaçadamente, o caso Casa Pia, acha sem grandes dificuldades que nada, rigorosamente nada vai suceder, e nunca vamos entender o que ali se passou, ou melhor dito, quem era o quê nos óbvios abusos sobre menores. Até aqui tudo é lamentavelmente pacífico.
Mas do nada nasceu uma entrevista da Catalina Pestana, e depois disso Cavaco Silva abordou o tema, e a actual provedora da Casa Pia veio dizer que não sabia de nada sobre continuados abusos até aos dias de hoje. Repentinamente voltou a Casa Pia às existências em cima do balcão.
Opiniões, vamos a elas, João Miranda, Blasfémias:
“A provedora da Casa Pia declarou hoje que não tem indícios da continuação da pedofilia na instituição. O que deixa em aberto duas hipóteses: ou não existe pedofilia na Casa Pia, ou a direcção da instituição é incapaz de a detectar. Ou seja, ficamos a saber o mesmo”
Antes, já João Gonçalves tinha deixado no Portugal dos Pequeninos uma excelente imagem do tema:
“Catalina Pestana dirigiu a Casa Pia e chegou ao fim concluindo que os abusos continuam, coisa que até um deficiente profundo imagina que acontece. Se assim é, a senhora não foi uma boa dirigente porque não exerceu o adequado controlo interno e descurou o mando. Não basta deitar lama para a ventoinha”
Esta imagem da lama na ventoinha bem podia ser a imagem global do processo Casa Pia – lama sobre lama sobre lama... na ventoinha...
Luiz Carvalho, no blog “Instante fatal”, sintetiza uma ideia que deve andar nas bocas de toda a gente: “A velha senhora indignada faz lembra o orelhas: denúncia no timing certo, quando já não pode ser vítima da sua verdade. Se sabe tanto porque não fez nada enquanto lá esteve? Não era também para limpar a podridão que para lá foi?”
No Blog “Papiro” encontro perguntas pertinentes colocada pelo pseudónimo Maremoto:”A antiga provedora da Casa Pia diz que continuam a existir abusos sexuais de menores na Instituição. A actual - provedora? - diz que é mentira. O Presidente da Republica diz que se deve investigar o caso. Será que as pessoas não sabem dizer a verdade apresentando provas?”Paira sobre Catalina Pestada essa suspeita: agora que saiu, fala. Enquanto lá esteve, o que terá feito? É nesse sentido que vai o blog “Ovelha Perdida”: “Ficou muito mal vir denunciar que continua a existir pedofilia na Casa Pia, um ou dois dias depois de ter abandonado a instituição. Era quando lá estava que devia ter falado e agido. Para criticar é preciso alguma moral”.
Resultado: em vez de contribuir para esclarecer, como deveria ser seu desígnio, Catalina Pestana ocupou os últimos anos no acto heróico de confundir. As autoridades, a Casa Pia, a Opinião Pública. Deixou-se fotografar na praia para aliviar a carga. Mas pela blogoesfera fora fica essa ideia duvidosa e pouco clara sobre a mulher que tinha nas mãos o papel mais simples de todos neste processo: ser água limpa e cristalina em pessoa. Não foi.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Polícias à solta

História resumida e rápida: dois polícias à paisana entraram na sede do Sindicato dos Professores da Região Centro e levaram alguns documentos, tendo interrogado sindicalistas sobre o tipo de manifestação que se preparavam para fazer durante a visita de José Sócrates a uma escola.
É óbvio que a coisa não podia correr bem aos polícias, e logo a seguir ao Governo. Comecemos por um comentário de um socialista, Medeiros Ferreira, no blog “Bicho Carpinteiro”:
“Lé-se e não se acredita.”
Realmente, não se percebe o chamado excesso de zelo, como lhe chamou Raimundo Narciso, no blog “Puxa Palavra”, acrescentando:
“Talvez por falta de experiência em manifestações e cordões humanos procuraram informações junto dos organizadores. Uma idiotice, obviamente. E tal idiotice deve ser tratada no quadro da corporação policial para que não se volte a repetir. Agora, dizer que o Governo praticou um «atentado à democracia»? Haja bom senso. E não se esqueçam do provérbio popular: «com quem ferro mata, com ferro morre».”
O comunista Vítor Dias, no blog “Tempo das Cerejas”, não tem as contemplações do seu ex-camarada e escreve:
“Não vale a pena estar com punhos de renda. Toda a gente percebe que os factos se apuram com dois ou três telefonemas e no máximo de duas horas. Portanto, insisto: o «processo de averiguações» é só para dar tempo às partes envolvidas para pensarem se é melhor ser o mexilhão a pagar, se é melhor ter o atrevimento de dizer que se tratou de uma inocente recolha de informação com carácter público, se é melhor dizer que se tratou de uma iniciativa legítima do ponto de vista de assegurar a ordem pública”.
Francisco José Viegas amansa as feras no blog “Origem das Espécies”:
“Durante todo o dia, pela rádio, ouvi falar do direito à indignação. Uma grande união nacional lutava pelo direito à manifestação. Que a democracia estava em perigo, que isto não podia ser, e que as liberdades estavam em perigo. Uma pessoa comove-se facilmente, mas volta à razão quando vê o espectáculo. Como se percebeu com algum bom-senso, a jogada saiu em favor de José Sócrates. A história de Pedro e o Lobo em mais uma variante.”
A montanha parece que pariu um rato apesar de serem preocupantes estes excessivos e permanentes excessos de zelo, desculpem lá as redundâncias... Aligeiro a coisa no final, com o humor do “Blog dos Marretas” sobre este tema. Titulo: “Novas Rotinas Policiais”
Texto: “A propósito da visita de agentes da PSP às instalações de um sindicato, a governadora civil de Castelo Branco diz que é um procedimento "habitual e rotineiro". Lá está: com ministros em acção pelo país, e centenas de sindicatos para todos os gostos, a polícia só tem tempo para as já "rotineiras" visitas aos sindicatos. E depois admiram-se com a quantidade de assaltos que acontecem todos os dias.”

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Vem aí o Congresso

O PSD não tem sossego: depois da eleição de Menezes, tem no próximo fim-de-semana um Congresso em Torres Vedras que pode recuperar o melhor do espectáculo do Partido: noitadas de faca na liga, bastidores e barões e bases e Santana Lopes ao rubro.
Tudo pode acontecer. Tudo? Bom, Marcelo Rebelo de Sousa já disse que não ia ao congresso. Pedro Correia, no blog "Corta Fitas", não entende:
“A ver se percebo, escreve ele: Marcelo Rebelo de Sousa não vai ao congresso social-democrata do próximo fim de semana porque acha "um erro o PSD debruçar-se sobre si próprio em vez de criticar o Governo". De caminho, considera "errada" a eleição de Luís Filipe Menezes, garante que Duarte Lima "não é a pessoa ideal para liderar" a bancada laranja no Parlamento, mostra-se convicto de que o partido "não aprendeu nada com as lições de 2004" e acusa Manuela Ferreira Leite de ter deixado Menezes utilizar o nome dela na recente campanha interna. Tudo isto na emissão de ontem do seu programa, em que uma vez mais aproveitou para fazer longuíssimas considerações sobre o PSD em vez de criticar o Governo. Virado para dentro do lado de fora.
Perceberam? Eu também não.”
Rui Costa Pinto, no blog "Mais Actual", também estava atento a Marcelo:
“Esteve ao mais alto nível, na RTP, a desconstruir Manuela Ferreira Leite. Com elegância e inteligência. A ”baronesa“ do PSD já prometeu responder no próximo Congresso. Será em português, tipo Gaia, ou em espanhol? “
Fica no ar a pergunta. Rodrigo Moita de Deus, no "31 da armada", prefere observar o regresso de Santana Lopes:
“Com o "número" na SIC Notícias e a vitória de Menezes, Santana ganhou novo fôlego. O "número" vai valer a ovação da noite no congresso. A vitória de Menezes vai valer o estatuto de reserva do partido. Santana tem mais “vidas” que Paulo Portas”.
Aliás, João Gonçalves no Portugal dos Pequeninos”, também recupera Portas à luz do renovado PSD:
«O dr. Menezes, consta, forneceu um suplemento de alma ao dr. Portas. Aliás, basta ler os amigos do dr. Portas para se entender que vamos passar por mais um "momento do fato às riscas". Portas vai espremer-se por se comportar, se não como um putativo "homem de Estado", pelo menos como um verdadeiro homenzinho ao pé de Menezes. Intervala e deixa para este o "povo que lavas no rio"».
Mas, há sempre um mas e João nota-o, “ambos correm sempre o risco de se encontrar entre uma fábrica e um mercado. E, até, de se atropelarem. Há pulsões que são tão irreprimíveis quanto irresistíveis.”
Rui Paula Matos, no “Macroscópio”, é demolidor para com o novo líder:
“A avaliar pelas aparições e desaparições (de Luís Filipe Menezes), nada de bom a conjuntura intermédia do PSD suscita - entre as Directas e o Congresso. Com efeito, Meneses tem rosto, mas ninguém sabe o que ele pensa acerca de nada; ele aparece de quando em vez, mas é para elogiar a quinquilharia santanista que ainda transformará a Lapa num baile de máscaras”.
Assim vai a blogoesfera que observa a laranja quando faltam quatro dias para o Congresso do PSD…

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Ser Benfiquista

A blogoesfera, como qualquer estrutura aberta a toda a gente, é palco privilegiado para o encontro de grupos de pessoas com os mesmos interesses, as mesmas obsessões. Basta por isso entrar num blog de um apaixonado por qualquer coisa para imediatamente nos linkarmos – isto é, ligarmos – a toda a comunidade que partilha o mesmo tipo de interesses.
Eis o que fiz hoje quando decidi procurar blogues ligados ao futebol, e especificamente ao Benfica, para aferir do estado de alma dos adeptos, agora que finalmente voltaram a ver uma vitória do seu clube, neste caso na liga.
O que se descobre então? Que a comunidade benfiquista presente na blogoesfera, apesar de satisfeita com o resultado, quer mais e melhor do treinador Camacho – ou Camatcho, como gostam de dizer. Ai de quem diga mal do glorioso Benfica, mas eles, os benfiquistas, podem...
D’Arc, blog Tertúlia Benfiquista:”Não me pareceu que o Benfica hoje tivesse mostrado estar muito melhor do que esteve na passada quarta-feira, por exemplo. A diferença foi que a bola entrou na baliza. O maior problema que a nossa equipa parece ter ultimamente é falta de confiança. Espero que esta vitória sirva de ajuda nesse campo”.
Bom, neste blog encontro links para outros e aterro no blog “Um zero basta”:
«Jogo fraquinho e sem garra, ali se escreve. Vá lá que ganhamos... se bem que se fosse pelo homem de negro não o teríamos feito. (...) De qualquer forma acredito que tenha acabado a pré-época por esses lados e colocando a malapata de lado, a partir de agora é sempre "salir a ganar"».E daqui salto para o blog “Bola na Rede B”:”Vá, ainda não estamos bem, não me interprete mal, mas o senhor está melhor, está melhor, é continuar neste caminho. Ganhe juízo, nada de recaídas”, aconselha o blogger anónimo.
Outro pseudónimo, Karadas, assina o blog “Ser benfiquista” e escreve, pessimista:
“De jogo para jogo o nível exibicional – amigo Karadas, exibicional não existe...! - tem vindo a decair. Exceptuando a partida com o Nacional, a verdade é que Camacho não trouxe, até ao momento, qualquer acréscimo de qualidade à equipa. E conta com um melhor naipe de jogadores do que aquele que foi colocado ao dispor de Fernando Santos”
Segue-se um arraso total ao treinador Camacho e os clássicos palpites de quem saberia dar a volta ao clube.
O que resulta desta amostra, no momento em que o Benfica volta a ter uma vitória, é esta ideia a um tempo feliz e triste: haver pessoas que se podem juntar, aproximar, trocar ideias e melhorar, por essa via, toda a comunidade a que pertencem, é um ganho feliz da blogoesfera. Perceber que, no fundo, nem por isso a atitude é mais positiva e menos “eu é que sei, o resto é conversa” – bom, essa é a parte triste deste olhar rápido que hoje dediquei, ok, eu confesso... ao meu clube...

domingo, 7 de outubro de 2007

Julgamentos populares

Se há coisinha que a blogoesfera faz com imenso jeito é julgar. Julgamentos, condenações, absolvições, basta dar uma voltinha pelos Blogs e logo se percebe para que lado pende o mundo. Não é excepção o caso da raptora de um bebé no Hospital de Penafiel, bem resumido por Carlos Abreu Amorim no “Blasfémias” a partir do relato do “Correio da Manhã”. A saber:
“Alice Ferreira saiu do Hospital de Penafiel com uma bebé que não era sua, passando por seguranças que nada lhe perguntaram. Alice não confessou o mal que tinha feito: se uma familiar não a tivesse denunciado, provavelmente aquela criança nunca conheceria a sua verdadeira mãe.Entretanto, a Inspecção-Geral da Saúde assegurou que o Hospital não teve qualquer culpa no sucedido e acusou a mãe de negligência – como sempre, o Estado defende o Estado e culpa as pessoas.No julgamento que agora decorre, o procurador disse que “os motivos que levaram ao crime são compreensíveis”. E não pede prisão para a raptora. Alice diz que procurava um milagre quando cometeu o crime. Afinal, encontrou-o: a Justiça portuguesa, que gasta milhões à procura de uma criança inglesa, aqui conclui que “foi um drama para toda a gente”. Pois foi. Sobretudo para o País com uma Justiça destas.”Eduardo, no blog “Bitaitadas”, estranha a indemnização em causa:”A criança foi bem tratada durante o período de rapto, a família assim que recuperou a bebé ganhou uma casa nova, roupa, comida, apoios financeiros, reconhecimento, solidariedade e acima de tudo... respeito. Agora, indignados com a sentença proferida pela Sra. Juíza, a família lesada reclama uma quantia na ordem dos 30 mil euros... Bem... cá pra mim deve ter sido o raio do empreiteiro que pediu mais uns trocos para acabar a marquise”.O julgamento continua, como bem se vê no blog “360 Graus” com a pergunta que se segue:
“Este tipo de sentença está bem longe do meu conceito de justiça! Será que se fosse uma menina inglesa desaparecida de um resort de luxo, teria o mesmo desfecho?”
Outras perguntas, bem mais pertinentes, deixa Pandora no blog “O Lado B da Vida”:
“Haverá dinheiro que pague impedirem um pai e uma mãe de assistirem aos primeiros sorrisos e gestos de um filho? Como reagiria o Juiz que decretou a sentença ou mesmo qualquer um de nós, a quem raptassem um filho? Não será altura de termos uma Justiça que seja mais justa e com penas mais severas?”
Emoções à flor da pele, desconfiança na justiça. Fecho com o comentário de Pacheco Pereira no blog “Abrupto”.
“Se a senhora que raptou uma "menina" num hospital e que foi descoberta um ano depois, tivesse mais dois ou três anos de convívio com a criança, passaria a ser "mãe do coração"? E que diriam os pedopsiquiatras, esta nova categoria jurídico-mediática?”
Volto ao começo: na blogoesfera julga-se demais. Mas por outro lado sente-se – e não é demais sentir – como pulsa o coração de quem olha para Portugal e nem sempre gosta do que vê.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

"Bloguitica" fora do carreiro da formiga...

Em ano e meio de Janela Indiscreta habituei-me a uma rotina na blogoesfera. Estou atento aos novos blogues, a blogues fora do formato comum, mas há sempre uma espécie de caminho das pedras que percorro invariavelmente todos os dias. Desse caminho fazia parte o blog “Bloguitica”, de Paulo Gorjão, seguramente um dos que mais citei nestas crónicas diárias. Porquê? Bom, basicamente porque o blog deste professor universitário vivia num registo de rigor e de uma observação muito incisiva da vida politica portuguesa. Era uma espécie de, ao mesmo tempo, agenda politica e registo de interesses (evidentemente desinteressado). Analisava, interpretava, e dava ordem à desordem do mundo político nacional.
No dia 30, Paulo Gorjão fechou o blog. Por “coincidência”... No mesmo dia em que Pacheco Pereira virou ao contrário o símbolo do PSD e Menezes se tornou líder do partido.
Como escreveu João Gonçalves, Paulo Gorjão faz falta à blogoesfera e não há politico nem politica que justifiquem o seu afastamento. Assino por baixo.
Dito isto, fico um bocado como as formigas sem carreiro, ando aos papéis pela blogoesfera encontrando, aqui e ali, posts que valem a pena, pequenas pérolas... Um, com ironia, ainda no âmbito do PSD, de João Villalobos no “Corta-fitas”:
“Enganam-se os que escrevem que agora «Marques Mendes vai iniciar uma travessia do deserto». Não percebem que isso foi justamente aquilo que acabou de fazer”.
Outra bem observada nota de Victor Abreu no blog “Jantar das quartas”:
“Aqui há uns tempos, a RTP fez uma publicidade em que apareciam caras "da casa" e espectadores anónimos a dizer que a RTP era "o canal da Judite", "o canal da D. Genoveva", "o canal do Malato", "o canal do Sr. Costa", e por aí adiante. Ontem, liguei para a SIC Notícias, e apanhei mais uma vez com Mário Soares a ser entrevistado pelo inevitável Mário Crespo. Decididamente, a SIC Notícias é o canal do Mário”
Ainda no campo do jornalismo, algo que também notei ontem e que Vital Moreira sublinhou no “Causa Nossa” a propósito da manif dos policias:
“A televisão mostrou umas centenas de manifestantes. Os próprios organizadores reivindicam apenas uns equívocos “mais de mil”. Mas alguns jornais conseguiram ver “mais de 3000 elementos”. É o "milagre da multiplicação dos polícias", a acrescentar à Bíblia...”
E por fim, um daqueles notáveis bocadinhos de vida que Pedro Mexia nos oferece regularmente no blog “Estado Civil”.
Intitula-se “O verbo «descontinuar»”. Ei-lo:
“Agora os jornais não fecham e as empresas já não encerram. Agora os projectos são «descontinuados». Há quem estranhe o estranho eufemismo. Mas eu conheço esse verbo há muitos anos. Nunca nenhuma mulher me disse: «És um estupor e nunca mais te quero ver à frente». Geralmente elas dizem com voz meiguinha: «Acho que esta relação deve ser descontinuada».”
Pedro Mexia no seu melhor. Pronto, foi um dia em que abri a Janela a pérolas soltas na blogoesfera já com saudades do agora extinto Bloguitica.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Menezes líder (Parte II)

As eleições directas no PSD trouxeram para a praça pública uma palavra, um adjectivo: populista. Diz-se que Luís Filipe Menezes ganhou a liderança do Partido com o seu estilo populista. E dizer isto é obviamente pouco simpático para o novo líder. Insisto no tema nesta terça-feira, porque há um post absolutamente genial no blog “Blasfémias”, assinado por João Miranda, que decidiu iluminar-nos a todos sobre o significado da palavra populista. Em 18 pontos, aqui vai na íntegra...
“Populista é
1. Fulano que agrada aos seus eleitores.
2. Outsider (Pessoa que não pertence ao grupo de amigos de X).
3. Fulano que promete 150 mil empregos.
4. Pessoa que exibe o neto na televisão.
5. Candidato que mergulha no Tejo.
6. Candidato que promete que não vai aumentar os impostos.
7. Político que não é de Lisboa.
8. Político de Lisboa que gosta de futebol.
9. Pessoa que oferece frigoríficos em vez de computadores e telemóveis.
10. Pessoa que compra os seus eleitores com fundos de campanha em vez de os comprar com o orçamento de estado.
11. Autarca (excepto Rui Rio).
12. Político que governa para os bairros sociais (excepto Rui Rio).
13. Pessoa sem o direito divino a governar.
14. Indivíduo que não pertence à Maçonaria nem à Opus.
15. Pessoa sem relações com o eixo Lisboa-Cascais.
16. Pessoa que não andou no Liceu Pedro Nunes.
17. Pessoa fora do círculo de amigos de Paula Teixeira da Cruz.
18. Político sem "caras conhecidas" na sede de campanha.”
... Ou seja, de populismo e populistas está a politica portuguesa cheia. Filipe Menezes é apenas mais um. É notável esta demonstração clara e inequívoca de como muitas vezes nos precipitamos a analisar os factos e a crucificar pessoas sem antes olhar à volta e ver quem nos rodeia. João Miranda viu, só por isso valia a pena voltar ao PSD e a estes dias difíceis que atravessa.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Menezes líder (parte I)

O problema é mais este: por onde começar? Não houve cão nem gato que não tivesse uma palavrinha a dizer sobre a surpreendente eleição de Luís Filipe Menezes para a liderança do PSD. Dos mais notáveis aos mais anónimos, há opiniões para todos os gostos e a palavra populista entrou no top 10 das mais usadas.
Vamos então viajar nesse maionese de ideias, começando pelo incontornável Pacheco Pereira no blog “Abrupto”. Para já, notar que ele virou o símbolo do PSD ao contrário - agora naquele blog só se encontra a seta virada para o chão. O soundbyte de Pacheco é este:”Na lista dos pecados mortais inclui-se a "preguiça" e muita gente pensa que o pecado é mesmo a preguiça. Não é: o pecado mortal é a acédia. (...) a acédia é a indiferença face ao mal, uma "tristeza" face ao bem que mata a acção, um torpor perante uma obrigação presumida. Um dos grandes e eficazes eleitores de Menezes foi a acédia”
Outro notável, Pedro Santana Lopes. Escreve no seu blog:
“Na política, há perder e há ganhar. Embora muitos, por eles, nunca tenham ganho nada. Por isso mesmo, alguns já queriam pôr em causa as directas. Ficou provado que não há método mais adequado, para "as bases" fazerem prevalecer a sua vontade soberana”.
Outras ideias e opiniões soltas e concisas... Francis Afonso no blog “Berra boi”, diz: “Ninguém no seu perfeito juízo emprestava um automóvel a Luis Filipe Menezes, a não ser que lhe dessem um carro sem travões no topo da serra. Foi precisamente isso que fizeram. Digam lá o que disserem, isto das bases é gente sensata. Agora é só esperar”.
José Medeiros Ferreira recorda, no blog “Bicho Carpinteiro”, que a “vitória de Filipe Menezes não é inédita nos anais do PSD. Quem era Cavaco Silva em 85 senão um populista com umas luzes de economia global que ganhou aos notáveis da altura o congresso da Figueira?”E no blog “Zero de Conduta”, Pedro Sales analisa a situação da seguinte forma:
“O PSD que nós vemos nesta desgraçada campanha é o PSD que existe. E não me parece que vá desaparecer para dar espaço a novos personagens. O PSD vai seguir o seu caminho, entregue a actores secundários, enquanto não vislumbrar o tempo para tomar o poder. O seu termo de comparação não é a refundação francesa, mas a travessia do deserto dos conservadores britânicos”.
Adolfo Mesquita Nunes no blog “Arte da fuga” prefere falar directamente para o Partido: “Não se sabe bem o que pode agora acontecer ao PSD. Sobretudo a estes baronetes habituados à távola redonda dos destinos do país e da social-democracia lusa. Mas temos alguns sinais do que podem estes baronetes fazer quando se sentem ameaçados ou postos fora da linha da frente da sucessão. São até capazes de ser os primeiros soldados de ataque a um governo do seu próprio partido. Serão pois, por maioria de razão, capazes de dar conta desta liderança que lhes aconteceu”No meio de tantas opiniões, sublinho a de João Gonçalves no blog “Portugal dos pequeninos”. Directo, critico, incisivo – sempre com um recorte de humor admirável - ei-lo:
“As "elites", as eternas "elites" do PSD fariam bem em meditar nesta vitória da "feira do relógio" sobre a "loja das meias". Cavaco Silva, o "noivo" de Sócrates, também. No meio disto tudo (do "tudo doido") pode ser que Santana Lopes aceite ser líder parlamentar como aqui já defendi. Afinal, foram "os seus" que ganharam. Agora não tem desculpa para ficar a ver passar os comboios”.
Um comboio, foi mesmo um grande comboio passou por cima do PSD este fim de semana...

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Blogue da Semana: "Reposição dos Benefícios Fiscais"

Chega-se lá clicando: mtpd.blogspot.com. O nome do blog parece pouco inspirado: “Reposição dos Benefícios Fiscais”.
Mas há uma causa por detrás, e há objectivamente uma luta: este é o
Blog do Movimento de Trabalhadores Portadores de Deficiência em Defesa dos Benefícios fiscais.
Escolho-o Blog da Semana porque ele é um exemplo de como a blogoesfera constitui também uma forma de luta e de protesto, um local de acolhimento para causas.
A história deste blog é simples e está lá contada: o Governo já cortou a perto de 40 mil pessoas uma parte dos benefícios fiscais em sede de IRS de que usufruíam porque são portadoras de um grau de deficiência igual ou superior a 60%. Esse benefício, que existe desde 1988, não é obviamente um privilégio, mas um serviço social mínimo do Estado.
Segundo o Manifesto deste movimento, “o Governo invocou que a poupança motivada por este corte seria usada em benefício de outras 135 000 pessoas com deficiência carenciadas”. Como se aqueles que usufruem deste beneficio fossem responsáveis pela miséria alheia que o Estado não contempla.
Vai dai, para lutarem pela reposição dos valores cortados, o Movimento criou um blog, fez um manifesto e começou a espalhar a noticia.
Em poucos dias, a blogoesfera reproduziu, difundiu, ampliou, amplificou, a luta destes 40 mil portadores de deficiência e o tema entrou na agenda dos media.
Agora, o Movimento ameaça agendar uma manifestação no mês de Novembro, caso o Governo não recue nas alterações intro­duzidas este ano aos benefícios fiscais, e vai avançar com um conjunto de pedidos de audiência ao Presidente da República, Executivo e grupos parlamentares.
Há um símbolo que corre pela Internet e que usa a bandeira nacional e o símbolo dos cidadãos portadores de deficiência, há noticias e manifestações de solidariedade um pouco por toda a blogoesfera, há dezenas de referências já monitorizadas desde que o blog arrancou, há meia dúzia de dias.
Independentemente do que se possa pensar, de estar de acordo ou não – e aparentemente é difícil não estar de acordo, quando se trata de cidadãos cuja capacidade está diminuída sem que eles sejam objectivamente responsáveis por isso – dizia, independentemente das nossas opiniões, a blogoesfera também permite criar e alimentar movimentos, causas, lutas, protestos, manifestos. Escolhi este, pela actualidade e pelo exemplo. Na verdade, um exemplo de que este universo global de comunicação tem espaço para tudo. E para todos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

PSD em chamas (Parte II)

Segundo dia que dedico ao PSD e ao momento difícil que atravessa. Amanhã há finalmente eleições, mas na verdade ninguém pode garantir que a liderança do Partido fique segura e firme no fim deste processo.
Na blgoesfera, o debate que começou muito centrado nas diferenças entre Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, alastrou e alargou-se até à crise dos partidos, implosão ou não...
Tomás Vasques, por exemplo, no blog “Hoje há Conquilhas”, recupera um texto de Pedro Correia: «O PSD – este PSD – acabou. E ainda bem». Foi isto que Pedro escreveu. Tomás Vasques pergunta então: “A questão que paira no ar, ao aceitar esta mortífera conclusão, é a de saber de onde renascerá o novo PSD. Ou será que o PS se irá dividir para, uma parte, ocupar o espaço político, reformista e eleitoral do PSD; e outra parte ocupar o espaço da «esquerda democrática» vocacionada para acordos com o PCP e o BE? A paz dos cemitérios permanecerá ainda mais tempo ou vem aí um grande furacão?”
João Villalobos, no “Corta-Fitas”, entra pelo furacão dentro a afirma:
“O PSD acabou porque já não é o que era, muito menos o que pode vir a ser.
O PS acabou porque agora é de direita e se afastou dos militantes de esquerda.
O CDS-PP acabou porque não tem quadros dirigentes nem descola nas sondagens e nos votos”
E vai por aí fora: O PCP acabou, O Bloco de esquerda idem...
“Em suma, os partidos políticos estão todos a dar o seu último suspiro. A democracia foi chão que deu uvas (olhem para a abstenção a crescer) e o que vem aí sabe-se lá, que a malta não está cá para clarividências. Está bem. Então prontos. Venha daí o dilúvio. Os partidos não sabem nadar, Iô!”
Frases soltas não faltam: “O PSD caminha alegremente para o abismo”, escreve
Pedro Morgado no blog “Avenida Central”
João Gonçalves pergunta no “Portugal dos Pequeninos”: “Como é que um partido que obteve as maiores "maiorias" da história destes anos democráticos pode ter chegado a este patamar de indignidade, de incivilidade e de falta de decoro que o empurra perigosamente para a irrelevância?”
No meio do ruído que a crise provoca, há sempre um momento sensato que se pode encontrar. É no blog “Causa Nossa” que o encontro. Vital Moreira avança uma tese inédita mas que merece reflexão, e que resulta justamente destes dias de brasa:
“Dado o papel político dos partidos, escreve, entendo que as eleições partidárias deveriam estar sujeitas às mesmas garantias de transparência e de imparcialidade das eleições dos órgãos do poder político, quanto a financiamento dos candidatos, organização dos cadernos eleitorais, operações de escrutínio e apuramento de resultados, etc.”
Em dois dias consecutivos, PSD, Menezes, Mendes, a crise dos Partidos, tudo pairou sobre os bloggers e a blogoesfera. Amanhã há eleições directas no PSD, logo veremos como serão os próximos capítulos desta novela.