quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O povo retirado da equação?

“Teremos referendo ou o povo vai ser retirado da equação?” – a pergunta, assim colocada por Miguel Portas no blog Sem Muros, dá o mote ao amplo debate que vai na blogoesfera sobre a ratificação do Tratado de Lisboa.
Como se não bastasse a delicadeza do tema em si, chegou agora o distinto Vital Moreira no blog Causa Nossa e escreveu:
"Os que defendem o referendo sobre o Tratado de Lisboa já experimentaram
lê-lo? E acham que algum cidadão comum consegue passar da segunda página? Não será tempo de deixar de brincar aos referendos?"
E pronto: caiu-lhe meio mundo em cima. Rui Cerdeira Branco no blog Adufe chamou-lhe paternalista e comentou:
“Serve essa complexidade agora de pretexto para desvalorizar e ridicularizar o exercício político por via referendária. O caminho que cegamente se trilha levará invariavelmente a um "Fiquem lá com a Europa que nós vamos por outro lado."
E remata: “Haja referendo porque SIM é cada vez mais uma excelente razão
. Tão boa como porque NÃO”.
Paulo Pinto Mascarenhas no blog da revista Atlântico concorda:
“Sem euroexcitamentos ou eurodepressões, acho que o referendo, agora que o tratado está aprovado, seria uma belíssima oportunidade para se discutir que lugar quer ocupar Portugal. Na Europa e no Mundo. Para votar “Sim”, porque não vejo a soberania em risco.”
Procurei alguém que dissesse não ao referendo e encontrei: Sebastião, no blog o Conserto das Nações, dá 3 razões para não referendar o Tratado:
Primeira, “a proliferação de referendos não me parece muito recomendável numa democracia representativa”. Segunda, “as campanhas referendárias tendem a assumir a forma de debates partidários e não de discussões sobre o que se pretende ratificar”. Terceira, “a política externa é tradicionalmente uma área opaca, que a generalidade da população conhece mal”.
Lá está a velha teoria: deixemos o povo em paz, ele não sabe do que fala...
Sofia Loureiro dos Santos tenta, no blog “Defender o quadrado”, explicar a lógica do Governo:
“Sócrates prometeu o referendo
em campanha eleitoral; nos últimos tempos tem tentado recuar, com receio que o resultado do referendo seja desfavorável, estando aliás em acerto com o Presidente da República”. Mas depois atira-se às contradições do habitual Abrupto:
“Para Pacheco Pereira, se Sócrates não quiser referendar está mal, pois desrespeita o povo que o elegeu, diminui a democracia e afasta os cidadãos dos governantes; se Sócrates referendar também está mal, porque o faz apenas e só porque daí tirará dividendos políticos internos, ganhando pela dúbia posição do PSD. Pacheco Pereira entrou em delírio, em plena esquizofrenia (ou desonestidade?) intelectual”.
E é assim que estamos, debatendo o referendo antes mesmo de debater o tratado.

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