sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Blogue da Semana: "Reposição dos Benefícios Fiscais"

Chega-se lá clicando: mtpd.blogspot.com. O nome do blog parece pouco inspirado: “Reposição dos Benefícios Fiscais”.
Mas há uma causa por detrás, e há objectivamente uma luta: este é o
Blog do Movimento de Trabalhadores Portadores de Deficiência em Defesa dos Benefícios fiscais.
Escolho-o Blog da Semana porque ele é um exemplo de como a blogoesfera constitui também uma forma de luta e de protesto, um local de acolhimento para causas.
A história deste blog é simples e está lá contada: o Governo já cortou a perto de 40 mil pessoas uma parte dos benefícios fiscais em sede de IRS de que usufruíam porque são portadoras de um grau de deficiência igual ou superior a 60%. Esse benefício, que existe desde 1988, não é obviamente um privilégio, mas um serviço social mínimo do Estado.
Segundo o Manifesto deste movimento, “o Governo invocou que a poupança motivada por este corte seria usada em benefício de outras 135 000 pessoas com deficiência carenciadas”. Como se aqueles que usufruem deste beneficio fossem responsáveis pela miséria alheia que o Estado não contempla.
Vai dai, para lutarem pela reposição dos valores cortados, o Movimento criou um blog, fez um manifesto e começou a espalhar a noticia.
Em poucos dias, a blogoesfera reproduziu, difundiu, ampliou, amplificou, a luta destes 40 mil portadores de deficiência e o tema entrou na agenda dos media.
Agora, o Movimento ameaça agendar uma manifestação no mês de Novembro, caso o Governo não recue nas alterações intro­duzidas este ano aos benefícios fiscais, e vai avançar com um conjunto de pedidos de audiência ao Presidente da República, Executivo e grupos parlamentares.
Há um símbolo que corre pela Internet e que usa a bandeira nacional e o símbolo dos cidadãos portadores de deficiência, há noticias e manifestações de solidariedade um pouco por toda a blogoesfera, há dezenas de referências já monitorizadas desde que o blog arrancou, há meia dúzia de dias.
Independentemente do que se possa pensar, de estar de acordo ou não – e aparentemente é difícil não estar de acordo, quando se trata de cidadãos cuja capacidade está diminuída sem que eles sejam objectivamente responsáveis por isso – dizia, independentemente das nossas opiniões, a blogoesfera também permite criar e alimentar movimentos, causas, lutas, protestos, manifestos. Escolhi este, pela actualidade e pelo exemplo. Na verdade, um exemplo de que este universo global de comunicação tem espaço para tudo. E para todos.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

PSD em chamas (Parte II)

Segundo dia que dedico ao PSD e ao momento difícil que atravessa. Amanhã há finalmente eleições, mas na verdade ninguém pode garantir que a liderança do Partido fique segura e firme no fim deste processo.
Na blgoesfera, o debate que começou muito centrado nas diferenças entre Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, alastrou e alargou-se até à crise dos partidos, implosão ou não...
Tomás Vasques, por exemplo, no blog “Hoje há Conquilhas”, recupera um texto de Pedro Correia: «O PSD – este PSD – acabou. E ainda bem». Foi isto que Pedro escreveu. Tomás Vasques pergunta então: “A questão que paira no ar, ao aceitar esta mortífera conclusão, é a de saber de onde renascerá o novo PSD. Ou será que o PS se irá dividir para, uma parte, ocupar o espaço político, reformista e eleitoral do PSD; e outra parte ocupar o espaço da «esquerda democrática» vocacionada para acordos com o PCP e o BE? A paz dos cemitérios permanecerá ainda mais tempo ou vem aí um grande furacão?”
João Villalobos, no “Corta-Fitas”, entra pelo furacão dentro a afirma:
“O PSD acabou porque já não é o que era, muito menos o que pode vir a ser.
O PS acabou porque agora é de direita e se afastou dos militantes de esquerda.
O CDS-PP acabou porque não tem quadros dirigentes nem descola nas sondagens e nos votos”
E vai por aí fora: O PCP acabou, O Bloco de esquerda idem...
“Em suma, os partidos políticos estão todos a dar o seu último suspiro. A democracia foi chão que deu uvas (olhem para a abstenção a crescer) e o que vem aí sabe-se lá, que a malta não está cá para clarividências. Está bem. Então prontos. Venha daí o dilúvio. Os partidos não sabem nadar, Iô!”
Frases soltas não faltam: “O PSD caminha alegremente para o abismo”, escreve
Pedro Morgado no blog “Avenida Central”
João Gonçalves pergunta no “Portugal dos Pequeninos”: “Como é que um partido que obteve as maiores "maiorias" da história destes anos democráticos pode ter chegado a este patamar de indignidade, de incivilidade e de falta de decoro que o empurra perigosamente para a irrelevância?”
No meio do ruído que a crise provoca, há sempre um momento sensato que se pode encontrar. É no blog “Causa Nossa” que o encontro. Vital Moreira avança uma tese inédita mas que merece reflexão, e que resulta justamente destes dias de brasa:
“Dado o papel político dos partidos, escreve, entendo que as eleições partidárias deveriam estar sujeitas às mesmas garantias de transparência e de imparcialidade das eleições dos órgãos do poder político, quanto a financiamento dos candidatos, organização dos cadernos eleitorais, operações de escrutínio e apuramento de resultados, etc.”
Em dois dias consecutivos, PSD, Menezes, Mendes, a crise dos Partidos, tudo pairou sobre os bloggers e a blogoesfera. Amanhã há eleições directas no PSD, logo veremos como serão os próximos capítulos desta novela.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

PSD em chamas (parte I)

À medida que nos aproximamos da data em que os militantes do PSD decidem quem querem ver na liderança do partido, parece que a campanha ganha contornos de comédia, de stand up comedy. Não tarda e parece mesmo um momento Gato Fedorento. Pela blogoesfera vão-se multiplicando opiniões e ideias - e eu vou tentar desenhar um ponto de situação com base no que se pensa e se escreve.
O começo seria óbvio, vamos aos notáveis do PSD na blogoesfera. Mas começa com desilusão: Pacheco Pereira calou-se, no Abrupto, sobre o momento. O que lá resta é o último artigo do Público onde Pacheco torna claro o seu voto:
“Vou votar em Marques Mendes; votaria, mesmo que a alternativa fosse algum dos "notáveis" que são sempre falados em eleições e se mantêm em silêncio como eternas esperanças do porvir”.
Pedro Santana Lopes, por seu turno, veio ao terreiro do blog para fazer correcões. Marques Mendes terá dito que "tomou conta" do Partido depois de o mesmo “ter tido o pior resultado da sua História, em 2005”. E o ex-lider não gostou: “Não fica nada bem esta falta de rigor a Marques Mendes, ainda por cima, sobre a História do Partido que agora lidera”. Santana prova que o resultado que Mendes herdou não foi o pior de sempre, houve pelo menos quatro ainda piores... “Mantenho a mesma atitude, escreve, de não me envolver nem querer participar na actual campanha. Mas como explicar este "engano" de Luís Marques Mendes? Como eu dizia, há uma semana, às vezes, parece que há uma obsessão!.. Mas não. É certamente por acaso”
Ironias à parte, vamos ver outras opiniões:
Pedro Correia, no blog “Corta fitas”, acha que as polémicas em torno das directas, dos votos e das quotas em dias concorrem para um "cada vez mais imprevisível" resultado. Paulo Gorjão, “Bloguitica”, não concorda:
“Os resultados são imprevisíveis desde o início, escreve ele. O seu «cada vez mais» é um juízo de valor que não me parece ter sustentação nos factos. Evidentemente, posso estar enganado, mas a verdade é que não há sondagens, não há nada, que mostre que o suposto fosso entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes tem vindo a diminuir à medida que se aproxima o dia das eleições”
Pedro Marques Lopes no blog da revista “Atlântico” deixa perguntas inquietantes e certeiras:
“Que confiança pode o cidadão eleitor ter num partido em que as regras não são claras, em que há acusações mútuas de “chapeladas”, em que se descobre que há membros do partido que precisavam de ter as quotas em dia para votar e outros não e em que militantes vendem os seus votos em troca do pagamento de quotas? É este o partido que vai pedir votos para que possa governar o país? É esta gente que vai ocupar cargos em ministérios, empresas públicas, autarquias e por aí adiante? É este o partido em que tenho habitualmente votado? “
O sentimento de Marques Lopes é partilhado por muitos eleitores e militantes do PSD. Ontem falava-se da implosão do PS, hoje sou tentado a concordar com Medeiros Ferreira no seu blog: em implosão imediata está mas é o PSD. Vai longa a crónica mas há mais para dizer - acho que amanhã continuo com este tema vindo mesmo... do mundo de lá.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Carrilho sabe tudo. E explica...

Ora quem havia de ter voltado ao nosso pequeno mundo: Manuel Maria Carrilho, pois então... Uma série de artigos de jornal para explicar aos pobres cidadãos o que está mal e bem no sistema politico. É claro que vinda de Carrilho, a prosa tem muitos sentidos únicos para o PS, partido a que pertence mas que nem sempre faz muita questão de o ver por lá.
A blogoesfera, mais PS menos PS, acordou e leu com atenção o primeiro texto do ex-ministro, cujo titulo, “A Implosão Partidária”, foi logo transformado no blog “Basfémias” em “A implosão...do PS?”, devidamente interrogada, mas ainda assim...
“Transparece sempre, ao longo do dito texto, a sensação de que Carrilho não pretende mais do que falar sobretudo de e para o seu partido. É da hipotética implosão do PS que se trata, até mesmo porque percebe-se que o pretendido também era dizer "eu bem disse", "eu bem avisei"!”, escreveu PMF.No blog “Grande Loja do Queijo Limiano”, José elenca os candidatos à implosão e publica os nomes de todos os actuais quadros dirigentes do PS! Dá a entender que o artigo é uma manobra de uma facção para desencadear a batalha no Partido. Escreve:
“É preciso mudar para que tudo fique diferente, com os mesmos. Vital, sequencial e em exercício de nunciatura, aproveita para apoiar essa mudança paradoxal”.
Pois justamente Vital Moreira, no blog “Causa Nossa”, dá a razão a Manuel Maria Carrilho: “O alerta sobre os riscos que impendem sobre os partidos, especialmente sobre o PS, não devia ser descartado sem mais. Os sintomas são inequívocos e os remédios devem começar em casa!”
Com Vital e com Carrilho está também Carlos Esperança, no blog “Ponte Europa”: ”Carrilho, diz, é um dos raros intelectuais portugueses que tem densidade cultural e dimensão internacional no campo da filosofia. Pensa a política com rigor e tem a capacidade de antecipar cenários. É demolidor quando, erudito francófono, engloba nos «dissidentes de ocasião» Isaltino, Valentim, Roseta e Carmona. Tem razão ainda quando, como é seu hábito, começa pelo PS”.
Miguel Portas, no seu blog “Sem Muros”, ironiza sobre todo o artigo para rematar:”Não se ria, muito menos sorria, que sagacidade, finura de raciocínio e estratosférica capacidade inventiva nos devem merecer o maior respeito. Como qualquer português ou portuguesa sabe, Carrilho só tem pensamentos profundos e conclusões transcendentes. Se não enxerga, o problema é seu”...
Razão ou não, volto ao começo, isto é, a PMF no “Blasfémias”, porque o remate do seu texto acaba por dar resposta integral ao que Manuel Maria Carrilho publicou:
“Não creio que, pelo menos como ponto de partida, se deva pressupor que uns - os partidos - podem actuar e os outros, todos os outros, podem, quando muito, escrever em blogs, pensar, mas não, de maneira alguma, concorrer em eleições. Este tipo de discurso acaba por ser uma das mais robustas e eficazes defesas do status quo aparelhístico-partidário que - esse sim - destrói mesmo a democracia!”
Polémica lançada, dentro e fora da blogoesfera. Carrilho está de volta, vamos ver se para ficar ou apenas para molhar o bico e voltar a voar para outras paragens mais calmas e filosóficas...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Estado (muito) civil

Comecemos a semana em paz, que bem falta faz. Rimei... Comecemos a semana com um aniversário: “Estado Civil”, o blog do poeta e critico literário Pedro Mexia, fez dois anos. Francisco José Viegas assinou o discurso do bolo de anos no blog “Origem das Espécies”, e eu sublinho o essencial:
“O Pedro é, escreve ele, entre outras coisas excelentes, um dos fundadores da blogosfera portuguesa. É um grande poeta, um escritor que prezo muito, um dos nossos melhores cronistas. Se eu pertencesse à sua geração diria que «ele é o melhor de nós». Foi corajoso na imprensa. Ganhou ódios de estimação porque não pertencia aos círculos da universidade e tinha mais competências do que eles. Ou porque não tinha nascido nas trincheiras da esquerda, o que era um pecado fatal. Ou porque, simplesmente, é culto, informado, tolerante”
E com um elogio destes, não é preciso mais nada. Ou é... Vejamos o seu blog por estes dias... Um post polémico:
“A doença infantil do direitismo é a «boutade». Sobretudo no meio cultural. Sendo o «regime» de esquerda, o direitista aprecia acima de tudo as provocações gratuitas. Mesmo que sejam patetas. Sou um assumido admirador de Vasco Pulido Valente; mas dizer, como ele disse, que Aquilino é um escritor «medíocre» não passa de uma «boutade». É normal que não se aprecie o estilo de Aquilino, os regionalismos cansativos, o pícaro programático, o virtuosismo exibicionista. Mas há que ter sentido das proporções e das palavras. Dizer que Aquilino é um escritor «medíocre» é uma bojarda. Sobretudo vindo de quem já elogiou Clara Pinto Correia”
Pedro Mexia, como se vê, não tem medo das palavras nem dos outros. Isso é cada vez mais raro entre nós.
E sobre a blogoesfera, oiçam como ele respira:
“Deixei as «polémicas» mas nunca abdiquei de textos polémicos. Escrevi no Estado Civil os meus textos mais polémicos, porque mais pessoais, ao pé dos quais uma recensão negativa ao Saramago (que me deu uma gloríola efémera e idiota) não é nada de nada. Quando, via Technorati, vou encontrando alguns insultos, fico satisfeito. É sinal de que ainda há gente atenta”
“Estado Civil”, o blog de Pedro Mexia, é um dos mais bem conseguidos diários da blogoesfera. Mistura opinião, ironia, observação, registo, interesses e paixões, obsessões e muito, muito estado de espírito no divã. O crítico e o cronista e o poeta estão lá – mas o que está lá mesmo é o autor.
Comecemos a semana em paz. Exceptuando o futebol, não há grandes temas a partir o país às postas, abro esta Janela com um blog de um blogger inquieto. Há dois anos, todos os dias.

domingo, 23 de setembro de 2007

Blog da semana: "Bicho Carpinteiro"

A ver se me explico: o meu blog da semana é na verdade um blog colectivo, mas o meu destaque resulta de uma contribuição individual... Já foi meu convidado nas manhãs de domingo aqui na Antena 1, mas há uma razão especial para o escolher como blogger da semana...
Comecemos então pelo princípio. Em 1978, há quase 30 anos, Vítor Direito fundou o jornal Correio da Manhã. Estávamos na ressacava da revolução e a equipa que fundava o novo diário queria um jornal popular, acessível, rápido de ler. O primeiro sinal desse conceito - que entre nós estava ainda muito associado aos jornais vespertinos -, foi dado pelo próprio director. Vítor Direito, em vez de um editorial longo e aborrecido todos os dias, criou na página 2 uma nota, chamada “Bilhete Postal”, onde manifestava o essencial da sua opinião com frases curtas. Como se fossem pequenos estados de alma. Ideias fortes. E rápidas.
Foi tal o sucesso daquele conceito que mesmo quando Vítor Direito se afastou da direcção do jornal a ideia do “Bilhete Postal” no Correio da Manhã continuou (e continua nos dias de hoje – actualmente sem grande graça ou talento, escrito por Leonor Pinhão).
Ora bem, é aqui que o blog bate com a escolha da semana: desde há 8 dias que aos fins-de-semana o bilhete postal do Correio da Manhã é assinado pelo talentoso José Medeiros Ferreira.
O que é que isto tem a ver com um blog? Tudo. Medeiros Ferreira ensaiou com sucesso, no blog “Bichos Carpinteiros”, um estilo de texto que tem tudo a ver com o tal “Bilhete Postal”: escrita rápida, concisa, directo ao assunto. Uso frequente da ironia e do humor para melhor poder manifestar a opinião. Textos surpreendentes. Desabafos. Dez, 12 linhas no máximo.
E tenho a certeza de que foi o seu estilo no blog que levou a direcção do Correio da Manhã a desafiá-lo para produzir em imprensa algo que Medeiros Ferreira nunca tinha feito.
Quando conversou comigo aqui no rádio, o político disse que tinha efectivamente feito um esforço para compreender a nova linguagem que a Internet presumia e adaptar o seu estilo ao meio. Agora, é um meio impresso que o adopta.
Curiosamente, o mesmo meio onde Vítor Direito apostou, sem sonhar que o fazia, numa forma de comunicar cheia, cheiinha de futuro...
Razões de sobra para a minha escolha da semana ser esse inquieto, acordado, rápido, bem-humorado, irónico, mas sério, muito sério “Bicho Carpinteiro”. E que me perdoem os demais bichos, José Medeiros Ferreira é o meu blogger da semana...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Mourinho 1, McCann 0

Agita-se o mundo do futebol – Scolari suspenso, Mourinho fora do Chelsea. A noticia do Chelsea foi conhecida ontem à noite, por isso os comentários são já generosos. Podia começar pela sugestão que Paulo Pinto Mascarenhas deixou logo no blog da revista Atlântico:
“Agora que José Mourinho saiu do Chelsea talvez o PSD o possa contratar para líder.”
Bruno Sena Martins, no blog “Avatares de um desejo”, confessa que ficou impressionado: Mourinho é dispensado no momento em que ele escreve no seu blog o que se segue: ”A dolorosa verdade é que Mourinho se sobreadaptou ao futebol inglês. Ressentem-se os resultados, mas sobretudo as exibições. É por estas que falo. É triste de ver o Chelsea jogar naquilo que é uma absoluta caricatura do futebol da Ilha. Até pode ser que o José ganhe Premier pela via da combatividade e pelas suas capacidades únicas de liderança. Mas, há que dizê-lo, o futebol de Mourinho há muito que não se recomenda.”Tiago, no blog “Catedral da palavra”, avança a direito:
“Era previsível este desfecho, não só porque não é fácil trabalhar com o Special One, mas principalmente devido aos recentes maus resultados da equipa londrina. Mourinho foi contratado para ser Campeão europeu e sai do Chelsea sem o ter conseguido”
No site, que também é blog, “Livre Indirecto”, solta-se a alma comentadora do português no seu melhor. Está lá de tudo, repare-se:
“A verdade é que olhando os 3 anos não se vê a construção de uma equipa para dominar durante 10 anos. Houve muitos soluços, arranques e recuos”, garante José Leal.Já Mike (pseudónimo) acha que “O Chelsea é que fica a perder, mas acho que ele fez bem em sair. Tenho pena do futuro treinador”.
Rafael, outro treinador de bancada: “Sem o Mourinho no Chelsea, deixou de haver o único motivo pelo qual eu era do Chelsea, agora posso voltar ao de sempre, o Liverpool.”
Tiago Silva: “Se na altura critiquei o facto de o Benfica precisar de começar a época para mudar de treinador, o mesmo se aplica com o Chelsea. Que má gestão de timmings! Mas isto tudo só prova que houve zaragata entre mourinho e o dono do clube. Fez bem em sair, sai mais milionário”.
Por fim, o anónimo Leão verde deixa uma piada:”Olhem que em Portugal a Naval está sem treinador...”
Mourinho vai continuar a ser notícia do dia, notícia dos próximos dias. Razão tem, por isso, Paulo Querido quando adivinha no seu blog:”Agora é que os McCann vão sumir das manchetes!
E depois deixa uma longa lista de potenciais manchetes dos próximos dias:
“Madaíl telefonou a Mourinho”. “Scolari sob pressão”. “Presidente da Federação nega contactos com Mourinho”. “Mourinho desmente”. “Mourinho confirma contactos”. “Scolari desgostado com Portugal”. “Selecção sobre brasas”. “Seleccionador perde a cabeça no balneário”. E por aí fora, que isto ainda tem pano para mangas...

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O debate ou "uma espécie de campeonato da segunda circular"...

Não estava em casa, não tinha um televisor ao alcance, por isso só reconheci o duelo televisivo entre Marques Mendes e Luís Filipe Menezes quando passeei pela blogoesfera, tarde e a más horas, e notei que alguns blogues acompanharam o debate em directo, minuto a minuto.
No blog "Blasfémias", coube a LR cobrir o confronto. Lendo os seus posts, parece evidente que Mendes terá dado cartas, mas o melhor está na reprodução deste interessante diálogo entre os candidatos a líder do PSD:
«- Tu não me deixas fazer oposição em paz! - queixa-se Mendes.
- Porque tu não sabes fazê-la, nem um debate ganhaste ao Sócrates - replica Menezes
- Só sabes fazer-me oposição interna - continua Mendes com o queixume.
- Também a fizeste ao Barroso e ao Santana Lopes - responde Menezes com "estocada fortíssima"».
O "Blasfémias" acompanhou o debate minuto a minuto, como também fez Paulo Pinto Mascarenhas no blogue “Atlântico”. Neste caso, com conclusões:
“Mendes está a ganhar o debate, está mais seguro e é mais convincente”, escreveu o director da revista e acrescentou: “Mas a diferença de credibilidade entre Menezes e Mendes na corrida para líder do partido, é a mesma que existe de Mendes para Sócrates. Mendes pode ganhar o PSD, mas dificilmente ganhará o país”.
Também em jeito de balanço, Paulo Gorjão no "Bloguitica" diz: “Suponho que ficou tudo como estava. Luís Marques Mendes não precisava de ser brilhante. Muito simplesmente o que se lhe pedia era que passasse pela prova de fogo sem se chamuscar, o que foi plenamente conseguido. Luís Filipe Menezes necessitava de conseguir o impossível. Não estamos, porém, em época de milagres”
Já Rui Costa Pinto, no blog "Mais Actual", entende que Luís Filipe Menezes teve uma “vitória à tangente”, e espera pelo próximo debate para ver se Menezes "bate" mais em Mendes.
Fecho a passeata no blog “31 da Armada”, com Pedro Marques Lopes, que reduz tudo, e bem, ao essencial: “Uma espécie de campeonato da segunda circular” . Explica:
“O que estaria em causa seria a escolha da pessoa que teria a responsabilidade de defrontar José Sócrates nas próximas eleições legislativas. Só que a realidade é muito diferente. Quando muito o que os militantes vão escolher é qual dos dois seria o derrotado nessas eleições. A verdade é que se as circunstancias se alterarem e existir uma possibilidade de Sócrates ser derrotado, nenhum destes dois será o candidato do PSD, ou seja, se por infelicidade nossa for um destes senhores o eleito quer dizer que o PS já ganhou as próximas legislativas”.
Pronto: não vi televisão, não vi o debate. Cheguei a casa, liguei o computador, e percebi o essencial.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O novo Código

O novo Código de Processo Penal é o tema do dia, sem dúvida, mas acredito que para o comum dos mortais isto diga pouco. Tento explicar: o Código é o conjunto de regras que orienta a investigação e o julgamento de todo o tipo de processos a que qualquer um de nós pode estar sujeito quando tem problemas com a justiça.
O novo código tem imensas leituras na blogoesfera. Uma das mais completas, talvez mais dedicada a advogados e estudantes, é a que José António Barreiros assina no blog “Patologia Social”. Vai ao pormenor dos mais pequenos artigos, deixo apenas este exemplo:
“Artigo 198º, n.º 2 «- A obrigação de apresentação periódica pode ser cumulada com qualquer outra medida de coacção, com a excepção da obrigação de permanência na habitação e da prisão preventiva».Barreiros comenta e lamenta “que se tenha previsto a impossibilidade de cumular a apresentação periódica em posto policial com a obrigação de apresentação parte do pressuposto de que esta medida é controlada por vigilância electrónica, o que nem sempre resulta. Casos houve em que o arguido conseguiu libertar-se da pulseira que apôs num gato! Contaram-ma como verdadeira. E eu acredito na imaginação criadora!”José António Barreiros, que comenta o novo texto quase linha a linha,
acha que esta reforma é “uma prova de arrogância e de desprezo sobre os que trabalham na Justiça”.
Rodrigo Moita de Deus, no blog “31 da armada”, opta pela fina ironia:
“Esta revisão do código de processo penal é uma escandaleira inacreditável. Parece impossível que agora uma pessoa não possa estar preventivamente presa durante dois anos sem ser condenada por um crime qualquer”
Francisco José Viegas na “Origem das Espécie” desabafa:
“Está toda a gente muito aflita com a saída de criminosos, arguidos, suspeitos, todos em prisão preventiva. Simplesmente, atribui-se o despautério à lei que agora entra em vigor mas não ao facto de haver gente detida durante meses e meses sem acusação formada”.
E ele próprio remete para Carlos A. Amorim, no blog “Blasfémias”, para destacar o que de bom tem o novo código… Aqui ficam alguns exemplos soltos:
“- A constituição de arguido passa a estar sujeita, quando efectuada por órgão de polícia criminal, a validação por magistrado.
- O interrogatório do arguido tem uma duração máxima de quatro horas, só podendo ser retomado após um intervalo mínimo de uma hora.
- O segredo de justiça é restringido, passando os sujeitos a poder aceder ao processo sempre que não haja prejuízo para a investigação ou para direitos fundamentais..
- Os prazos de prisão preventiva são reduzidos em termos equilibrados”
Mais opinões, visito Rui Costa Ponto no blog “Mais Actual”:
“A palavra recurso para os Tribunais Superiores passou a ter um verdadeiro sentido em Portugal. É a primeira vitória da entrada em vigor do novo Código de Processo Penal. Chegou a hora de os Procuradores e os Juízes exigirem condições para cumprir a Lei”
A blogoesfera raras vezes me tranquiliza. Hoje, curiosamente, deixou-me mais calmo…

Maradona & Scolari

Comecemos a semana com sinceridade... (e não, como Paulo Bento, com tranquilidade..).
Pois bem, com sinceridade cá vai: diariamente frequento o blog “A Causa Foi Modificada”, do autor - sob a forma de pseudónimo - Maradona, que muitas vezes tenho aqui citado, por ser dos mais bem escritos, inteligentes e imaginativos autores da blogoesfera, e por juntar a esses talentos uma dedicação ao futebol que raramente se concilia nos media com essas mesmas qualidades. Ou seja: uma soma improvável mas aqui conseguida.
Venho de fim-de-semana e o que encontro eu: um longo post de Maradona ainda a propósito de Scolari e do presumível murro. Maradona terá defendido Scolari e a blogoesfera caiu-lhe em cima. Vai daí defendeu-se. E é tão inteligente, sólida e bem escrita a defesa, e ganha em si mesma um olhar tão incomum sobre o futebol, que vale a pena ocupar esta Janela de hoje só com algumas das ideias essenciais que Maradona deixa. A saber:
Um: “O futebol é uma forma de arte. Não me peçam para explicar. O arrepio que sinto na espinha ao ler uma página do Guerra e Paz é o mesmo que sinto ao ver uma contra-vírgula do Ronaldinho Gaúcho. Não me peçam para explicar, falem com o meu neurologista. Entre o futebol e a literatura, é claro, não existe comparação possivel. Mas tão pouco acho que exista comparação possível entre, por exemplo, a escultura e a literatura. As coisas não têm que ter o mesmo valor para poderem ser vividas como experiências estéticas de intensidade igual”
Dois: “Quem não sente o futebol como uma manifestação estética da inteligência humana está disposto a sacrificar, em nome de uma moral, o "bom" (quem vence) em favor do "mau" (quem perde). Quem sente o futebol como um espaço privilegiado de exploração dos limites da criatividade e do físico humanos não aceita, por ética nenhuma, que lhe coloquem fronteiras artificiais vindas de fora das regras do futebol.”Três: “A moral do desporto são as regras do desporto, ou seja, a moral do futebol propriamente dito são as regras do futebol. Não há mais nada no futebol, não deve haver mais nada no futebol, não tem que haver mais nada no futebol. E eu concordo com as regras actuais do futebol.”Quatro: “Não é admissível que se queira transformar o desporto num exemplo, mas mais chato ainda é que vejam nos vencedores do futebol um espelho fiel das pessoas que o apreciam. Não se faz isso em praticamente nenhuma ficção humana, acho pouco decente faze-lo do desporto. Por isso, de nenhuma maneira se pode dizer que a pessoa que defende a permanência de Scolari está a justificar os "meios com os fins". Porque os meios estão bem definidos pelas regras do futebol”.
Bom, o texto na integra está no blog “A causa Foi Modificada” e é um pequeno tratado sobre a paixão e o deporto, neste caso a paixão e o futebol. Não é preciso concordar com o autor - e em vários passos eu não concordo... - para lhe reconhecer profundidade e sentido. Pagaria o preço de um jornal para o ler. Pode ler-se gratuitamente na blogoesfera. Que mais posso querer para começar a semana?

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Blog da semana: Blogtailors

Foi através do sempre bem informado Francisco José Viegas que cheguei ao blog da semana – que sendo recente (tem exactamente oito dias de vida), parece destinado ao sucesso. Chama-se “Blogtailors”, nasce dos consultores editoriais “Booktailors”, e assume-se como “um espaço onde todos os interessados em edição, profissionais ou curiosos, possam participar e conversar sobre edição. É um lugar para fazer amigos e trocar opiniões”.No seu estatuto editorial, os “Blogtailors” dizem que não querem ser “um blog genérico que fala sobre tudo e sobre nada, muito menos um blog que fala sobre nós ou os nossos gostos. Na verdade, dizem eles, queremos saber de vocês. Queremos saber os livros que vocês lêem ou fazem, queremos saber das vossas novidades e transmitir também aquilo que sabemos e aquilo que fazemos. Queremos, ao fim e ao cabo, partilhar”.
Prometem “entrevistas, dicas e novidades”, e aproveitam o blog para promover a sua actividade de consultores editoriais.
Um dos primeiros posts do novo blog é sobre a polémica medida das Livrarias Bertrand de alterar as condições de relacionamento comercial com os editores. Para lá da opinião que qualquer um possa ter, a forma como o blog coloca o problema traduz seriedade, sentido de responsabilidade, e uma atitude ética muito escorreita.
Mas também já se encontra no “Blogtailors” uma bolsa de emprego e formulas para novos autores apresentarem as suas obras, além de links para todas as editoras portuguesas que estão presentes na Internet. “Queremos avançar ideias, nossas e vossas; apoiar quem quer deixar de discutir e começar a fazer; elogiar quem já o faz bem e merece relevo; dar a conhecer algumas pessoas por detrás das fichas técnicas; revelar curiosidades e peripécias de um meio onde quase sempre se trabalha por gosto”, dizem os “Blogtaylors”.
Reunida toda a argumentação, escolho-o blog da semana - porque já nasce com futuro. Tem a ambição de ser “O blog da edição de livros em Portugal” e é bem provável que o consiga.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Scolari, de novo a besta...

Era inevitável: Scolari, e a cena final no jogo com a Sérvia, ontem à noite, domina as atenções da blogoesfera. Ultrapassa o Dalai Lama e o começo do ano escolar em atenção e interessa. Num país onde há 10 milhões de candidatos a treinadores da selecção nacional, aqui está um pasto verde para todos...
“Sempre defendi que fosse despedido”, escreve Bruno Sena Martins no blog “Avatares de um desejo”, “mas uma decisão certa pelas razões erradas é uma decisão errada. Pacifista que sou, a minha solidariedade é pelo homem desesperado que desata ao sopapo. Por uma vez não contem comigo para o deitar abaixo”.
Nem comigo, acrescento eu. Deitado abaixo já está na pena de Bruno santos no blog “Baixa Autoridade”: “Scolari dá por terminada a sua carreira na selecção nacional e assinala o momento com um gancho de esquerda sobre um estranho e muito alto atleta sérvio”.
João Reis Ribeiro, no blog “Nesta Hora”, usa a expressão óbvia - “Entre o bestial e a besta”. E escreve: “A palavra mais suave que os jornais encontraram foi "vergonha" para o "Mister". Então o homem que nos encheu de orgulho, levando-nos a estimar (e a exibir) a nossa bandeira, já não serve para nada? Torna-se irritante esta prática jornalística que transforma, nuns dias, um indivíduo em génio e, noutros, o mesmo indivíduo em subespécie. A imprensa glorificou Scolari; a imprensa tem-no pressionado; a imprensa derrota Scolari. Quem pede à imprensa que seja juiz?”
Eis uma boa pergunta – a que uma resposta empírica diria: são os leitores, quem sabe...
Por exemplo, o politico Jorge Ferreira, no seu blog “Tomar partido”, não hesitou um segundo ontem à noite: “Uma vergonha. Obviamente, espero que amanhã já não seja o seleccionador nacional”.
Nelson Marques, no blog “Tribo do futebol”, prefere analisar o tema pela lógica dos públicos e dos treinadores e parece pensar que a cena de violência não seria condenatória se porventura Portugal tivesse ganho...
“O divórcio do público em relação ao seleccionador não traz nada de novo. Scolari, como qualquer treinador, será sempre bestial quando ganha e besta quando perde. Mais grave será um eventual divórcio com a equipa e, para isso, era bom que Scolari voltasse a convocar a Nossa Senhora do Caravaggio para que o ajude a unir as tropas em torno do objectivo”.
Salva-nos de desgraça, então, a ironia e o humor. Encontro primeiro no blog “Irmão Lúcia” com Pedro Vieira: “Se o scolari interrogasse a kate mccann a verdade saltava toda cá para fora”
E melhor ainda para fechar a loja, com Rodrigo Moita de Deus no “31 da armada”: “Empatar jogos fáceis, deixar o apuramento para a última jornada, bater nos adversários no final do jogo. Depois de tantos anos por cá, o único problema de Scolari é estar a aportuguesar.”
E assim ficamos. Volto amanhã com mais notícias do mundo de lá......

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Cabazadas

Já não sei como começou a história, mas sei que encontrei este post de Pedro Marques Lopes no blog “31 da Armada”, e percebi que começava ali, ou por ali passava, uma polémica divertida. Escrevia ele:
“Ando divertidíssimo com a histeria colectiva que a nossa selecção de Rugby anda a provocar. Subitamente, as pessoas que tanto criticam os nossos jogadores de futebol quando estes perdem, resolvem glorificar uns rapazes que vão levar cabazadas ao mundial da modalidade. Para tal, basta uma boa campanha de marketing, umas declarações grandiloquentes sobre a pátria, umas lagrimitas durante o hino e já está.
A mais risível das coisas é justificar as mais que previsíveis derrotas humilhantes com o “grande” argumento de que aqueles rapazes são amadores. E então?”
Daqui para diante, dá para imaginar o que se segue? Dá.
João Villalobos, no blog “Corta fitas”, responde-lhe à letra:
“Amanhã estamos lá outra vez e perdemos por menos. Depois de amanhã voltamos a estar e ganhamos. Deliro? Extravaso a minha culpa por ter recusado ingressar nas fileiras do Dramático do Cascais há anos sem fim? Quiçá. Mas, se agora os Lobos levarem inevitáveis «cabazadas», estou certo de que mesmo assim a sua presença no Mundial vai - obrigatoriamente - provocar várias consequências: atrair mais praticantes; fazer com que os patrocinadores olhem de outra forma para a modalidade; criar uma maior solidez no treino de todas as equipas. E tudo isto é bom, nada disto é fado”
Vasco Barreto, no blog “Memória inventada”, vai mais longe e critica os comentadores:
“Parabéns aos amadores de râguebi pela presença no mundial, mas desde quando precisamos dos desportos amadores para dizer mal do Scolari? Haja brio no acto de insultar.”
A discussão vai alta... Nuno Ramos de Almeida atira achas para a fogueira:
“A vantagem da selecção nacional de futebol, em comparação à de râguebi, é que, tendo mais jogadores brasileiros (e menos argentinos) e muito menos betos, não fazem aquela figura a cantar o hino".
Maradona, essa autoridade nacional no desporto, no blog “A Causa Foi modificada”, esclarece por fim: de acordo com o post de Pedro Marques Lopes, mas Ana Matos Pires fez, na sua “modesta opinião”, o melhor comentário do ano: «Bem, que ataque de mau feitio, Pedrinho». Não era preciso ver os cabelos dos nossos jogadores de rugby para adivinhar que este é o típico comentário de uma adepta de rugby”, remata Maradona.
Isto é, e agora digo eu: entre os adeptos da modalidade e os pára-quedistas de última hora, isto hoje parecia mesmo um combate de boxe, nada de rugby nem jogo de bola...
Volto amanhã com mais notícias desse mundo de lá, neste dia com bola e tudo...

"Sospecho", claro que sim...

Ainda que seja um novo mundo aberto às ideias inovadoras de toda a gente, a blogoesfera revela-se muitas vezes mais previsível do que um velho jornal de província. Prova disso foi o começo deste dia 11: posts e mais posts com reflexões, homenagens, sinais, daquele acordar no pesadelo de 2001 em Nova Iorque. Como se fosse uma obrigação, lá vem a conversa do costume.
Opto por passar ao lado da efeméride e insistir no caso McCann, tanto mais que foi tema do programa da RTP “Prós e Contras” ontem á noite – e esse é, claramente, um dos debates preferidos da blogoesfera nacional.
Paulo Pinto Mascarenhas, por exemplo, no blog da revista “Atlântico”, dispara a matar:
“José Miguel Júdice espanta-se com o tempo que os media dedicaram ao assunto todos os dias. “Encher chouriços” é a expressão. Pouco depois um senhor espanhol, Crabrera de seu nome, perora sobre “el cambio” no aspecto facial de Kate McCann. “Sospecho”. Percebo a aplicação da expressão de Júdice. Ficção por ficção, prefiro a competente: antes o CSI na SIC”.
Eduardo Pitta, no blog “Da Literatura”, parece claramente desconfiado de tudo o que se passa: sublinha que a polícia britânica escoltou a família McCann do aeroporto a casa, e desconfia da Sky News, “que parece deter o exclusivo da cobertura”. Remata: “Bem pode a polícia algarvia espernear. Do Leicestershire já ninguém arranca os McCann”.
Raimundo Narciso, no blog “Puxa Palavra”, titula um post com a frase exemplar: “Escasseia o pão, sobeja o circo”. E escreve:
“Fátima Campos Ferreira e a sua parafernália de especialistas... Começou agora a segunda parte e começo a crer que ela também não sabe nada. Estou para ver que chegamos ao fim e nada. Se foi raptada sequestrada ou... Se a nossa judiciária é melhor que a deles ou o contrário. Se os tablóides deles são melhores que os nossos, e se a nossa opinião pública culpa os pais mais ou menos que a deles e qual delas vai ganhar. Se enganaram o Papa ou não. Zac, zac e zac vou desligar a Fátima. Irra, zac.”
No mesmo blog, João Abel de Freitas acha que “Confusão é a palavra mais indicada. Maddie não merecia esta confusão. Como pessoa merecia viver e ter o seu percurso. Após 4 meses de imenso jogo global, eis que o casal McCan pode criar a sua marca comercial”.
Para rematar esta volta rápida por alguma blogoesfera, aterro no “Bloguitica” e leio Paulo Gorjão:
“Eduardo Dâmaso, director-adjunto do Correio da Manhã, acusa a comunicação social do Reino Unido de produzir «um jornalismo que se porta como mera extensão dos desígnios, mais ou menos ocultos, do Estado inglês». Independentemente da veracidade desta acusação, seria mais interessante saber que auto-retrato faz o jornalismo português da sua cobertura do «Caso Maddie»”.
Esse auto-retrato ficou mais ou menos feito por Henrique Monteiro no programa da RTP, mas está obviamente por fazer em geral. E na blogoesfera, em particular – lugar onde as emoções tantas vezes se sobrepõem às razões.
Volto amanhã com mais notícias do mundo de lá.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O Caso Maddie

Se calhar está mesmo “Tudo Maluco”, como comentava ontem Pedro Picoito no “Cachimbo de Magritte”, mas a verdade é que desde há uns dias que se exerce em Portugal, como ele escreve, “o nobre exercício de trucidar o casal McCann”.
A blogoesfera não escapa à voragem dos comentários sobre o volte-face do caso do desaparecimento da pequena Maddie...
José Teófilo Duarte, no “Blog Operatório”, depois de umas longas férias, vem a terreiro e escreve:
“A populaça já iniciou o ciclo de vaias. Aquele povo sofredor quer sangue. Estão achados os culpados e já foram condenados por estes implacáveis juízes. A partir de agora está montado um circo à porta da polícia Judiciária de Portimão. E as vedetas são eles: já dão entrevistas em directo e tudo. As telenovelas não satisfazem a mórbida curiosidade desta gente. A realidade é ainda mais perfeita”.
Miguel Portas, no blog “Sem Muros”, está de acordo:
“Os noticiários do almoço abriram, mais uma vez, com o caso Madeleine. Todos passaram imagens da mãe Mcann a dirigir-se para a judiciária. Estavam umas dezenas de populares e ouviram-se apupos. É tramado. Aquela gente, que uns dias antes ali poderia estar de lágrima no olho, mais um bocado e dispor-se-ia a linchá-la. De bestial a besta, portanto. Que teremos dentro de nós que nos torna capazes do melhor e do pior?”
José Medeiros Ferreira no “Bicho Carpinteiro”, alinha com a populaça porque acha que “nada é transparente e tudo parece coreografado” na atitude do casal inglês.
Já o jornalista Nuno Simas, no blog “Glória Fácil”, prefere reflectir sobre o trabalho da Policia Judiciária e a relação directa com o Governo:
“Se a PJ “meter água” neste processo, com meio mundo a assistir, bem podem o Governo e o ministro Rui Pereira pôr as barbas de molho. Para já não falar do director da PJ”.
É interessante ver como os jornalistas gostam de misturar ministros com casos de polícia... O primeiro erro de Simas é que a PJ depende do Ministro da Justiça, que é Alberto Costa, e não de Rui Pereira. O 2º erro é que, mesmo assim, se a PJ meter água, o ministro tem zero a ver com o tema, parece óbvio...
Bom, fecho o dia com Rui Castro que aproveita este tema para meter outra acha na fogueira, no blog “31 da Armada”. Escreve ele:
“Todos os dias têm sido publicadas notícias a propósito do caso da criança inglesa desaparecida no Algarve. O nível de pormenor é impressionante, com a divulgação pelos jornais e televisões de questões colocadas a testemunhas e arguidos em sede de inquérito, bem como as respectivas respostas. Da última vez que peguei nos manuais de direito penal, a violação do segredo de justiça era ainda crime. Se assim (ainda) é, não compreendo como é que não há notícia de um único inquérito que tenha sido aberto tendo em vista a punição dos prevaricadores.”
Como se vê, o regresso do caso McCann tem muitas pontas novas por onde pegar. Vamos ver o que os próximos dias nos reservam, eu volto amanhã com mais notícias do mundo de lá...

Presente de estreia...

Como tenho a absoluta certeza de ter, nesta estreia, apenas um leitor (obviamente, eu próprio!), dou-me ao luxo de oferecer ao leitor deste blog um presente que muito raras vezes repetirei: a crónica desta segunda-feira, dia 10, com 18 horas de antecipação em relação à emissão radiofónica... Vai de seguida, com os cumprimentos da gerência!

Começo de Conversa

A pedido de várias famílias, os textos da coluna radiofónica Janela Indiscreta (Antena 1, RDP, de segunda a sexta, às 18:20), vão passar a ser disponibilizados aqui com a metódica regularidade da minha caótica organização.
Devo começar por dizer que os textos são escritos para serem “falados”, ou “lidos”, pelo que não só têm algumas marca de oralidade (evidentemente, propositadas...) como é meu hábito improvisar um pouco “em cima deles” no momento em que gravo a rubrica.
Também é relevante dizer que, dado tratar-se de uma “revista de blog’s” – e uma vez que os blog’s não se preocupam com a oralidade ou com a eventual citação lida dos seus textos -, tomo a liberdade de editar minimamente os textos que selecciono. Faço-o apenas para que, em rádio, não se perca a ideia do blogger pelo facto de escrever frases longas e muito entrecortadas.
Da mesma forma, não reproduzo palavrões nem frases pessoalmente ofensivas, assim como evito acusações cuja possibilidade de prova é diminuta ou inexistente.
Sendo uma humilde crónica de rádio, tinha ainda assim de ter alguns princípios. São estes. Quem tiver razão de queixa, não hesite!
Obrigado.