quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Scolari, de novo a besta...

Era inevitável: Scolari, e a cena final no jogo com a Sérvia, ontem à noite, domina as atenções da blogoesfera. Ultrapassa o Dalai Lama e o começo do ano escolar em atenção e interessa. Num país onde há 10 milhões de candidatos a treinadores da selecção nacional, aqui está um pasto verde para todos...
“Sempre defendi que fosse despedido”, escreve Bruno Sena Martins no blog “Avatares de um desejo”, “mas uma decisão certa pelas razões erradas é uma decisão errada. Pacifista que sou, a minha solidariedade é pelo homem desesperado que desata ao sopapo. Por uma vez não contem comigo para o deitar abaixo”.
Nem comigo, acrescento eu. Deitado abaixo já está na pena de Bruno santos no blog “Baixa Autoridade”: “Scolari dá por terminada a sua carreira na selecção nacional e assinala o momento com um gancho de esquerda sobre um estranho e muito alto atleta sérvio”.
João Reis Ribeiro, no blog “Nesta Hora”, usa a expressão óbvia - “Entre o bestial e a besta”. E escreve: “A palavra mais suave que os jornais encontraram foi "vergonha" para o "Mister". Então o homem que nos encheu de orgulho, levando-nos a estimar (e a exibir) a nossa bandeira, já não serve para nada? Torna-se irritante esta prática jornalística que transforma, nuns dias, um indivíduo em génio e, noutros, o mesmo indivíduo em subespécie. A imprensa glorificou Scolari; a imprensa tem-no pressionado; a imprensa derrota Scolari. Quem pede à imprensa que seja juiz?”
Eis uma boa pergunta – a que uma resposta empírica diria: são os leitores, quem sabe...
Por exemplo, o politico Jorge Ferreira, no seu blog “Tomar partido”, não hesitou um segundo ontem à noite: “Uma vergonha. Obviamente, espero que amanhã já não seja o seleccionador nacional”.
Nelson Marques, no blog “Tribo do futebol”, prefere analisar o tema pela lógica dos públicos e dos treinadores e parece pensar que a cena de violência não seria condenatória se porventura Portugal tivesse ganho...
“O divórcio do público em relação ao seleccionador não traz nada de novo. Scolari, como qualquer treinador, será sempre bestial quando ganha e besta quando perde. Mais grave será um eventual divórcio com a equipa e, para isso, era bom que Scolari voltasse a convocar a Nossa Senhora do Caravaggio para que o ajude a unir as tropas em torno do objectivo”.
Salva-nos de desgraça, então, a ironia e o humor. Encontro primeiro no blog “Irmão Lúcia” com Pedro Vieira: “Se o scolari interrogasse a kate mccann a verdade saltava toda cá para fora”
E melhor ainda para fechar a loja, com Rodrigo Moita de Deus no “31 da armada”: “Empatar jogos fáceis, deixar o apuramento para a última jornada, bater nos adversários no final do jogo. Depois de tantos anos por cá, o único problema de Scolari é estar a aportuguesar.”
E assim ficamos. Volto amanhã com mais notícias do mundo de lá......

2 comentários:

atribodofutebol disse...

Caro PRD

Fico muito lisonjeado pela sua referência, mas não é verdade que alguma vez tenha implicado que a violência não seria condenatória se Portugal tivesse ganho. O que fiz sim foi uma análise do comportamento do público em relação a Scolari no final do jogo e que nada tem a ver com a cena de violência mas com o empate da selecção.

Bruno Pinto disse...

Já muito se falou do soco que Luíz Felipe Scolari aplicou no jogador sérvio Dragutinovic, no final do Portugal-Sérvia de quarta-feira. Como sempre acontece em casos semelhantes, mais a mais tratando-se de uma figura que objectivamente divide a sociedade portuguesa, as opiniões divergem. Uns pedem a demissão do seleccionador nacional. Outros não acham caso para tanto, mas já não disfarçam a sua antipatia pelo carácter polémico e conflituoso de Felipão. E há também os que o defendem com unhas e dentes, declarando até compreensão para com aquele acto intempestivo. No meio de todo este imbróglio, é visível que, na maioria dos considerandos, não há uma separação entre o murro e a visão de cada um acerca da realidade actual da Selecção Nacional. Os detractores de Scolari, servem-se do triste acontecimento para pedirem a cabeça do técnico. Os seus fiéis seguidores não perdem a oportunidade para dizer que o erro faz parte da condição humana, lembrando depois que Scolari é o treinador mais bem sucedido da história da selecção de todos nós.

Eu separo as águas. A atitude que o 'Sargentão' tomou foi vergonhosa, inadmissível e patética. Um treinador a agredir um jogador adversário é surreal. Por outro lado, penso que, após o Europeu'2008, Scolari só tem um caminho que é a saída. Ressalvo, porém, que estas duas opiniões são completamente independentes uma da outra, ou seja, não é por Scolari ter agredido o defesa do Sevilha que defendo a sua saída no ano que vem. Nem é por achar que o tempo dele aqui está próximo do final que acho aquele soco mais ou menos vergonhoso para o futebol português, ou merecedor de uma pena maior ou menor.

De facto, aquele gesto de pugilato foi miserável. É certo que Drago não foi dar os parabéns a Scolari no final, nem dizer ao Quaresma que é um fã incondicional das suas trivelas. É óbvio que a frustração provocada pelo empate sérvio conseguido à beira dos 90 minutos, mais ainda com um golo irregular, terá facilitado à paralisação momentânea do cérebro do brasileiro. Todos devemos admitir que se formos insultados na cara, numa situação de tensão, não teremos propriamente reacções meigas ou gestos de carinho em resposta. Só que Scolari tem um cargo de responsabilidade e se aufere 150 mil euros por mês, não é só para orientar a equipa nacional, mas também para servir de exemplo aos seus jogadores, aos adeptos, a todos os que acompanham o fenómeno desportivo. Não pode ter uma atitude daquelas! Merece um castigo condizente com o erro que cometeu, o mesmo é dizer uma suspensão temporária. De quanto tempo? A UEFA deve decidir estes casos através de critérios já definidos, digo eu. A FPF, essa, limitar-se-á a assobiar para o lado, uma vez que Gilberto Madaíl não tem pulso para colocar Scolari em sentido ou porque simplesmente não quer gerar ainda mais instabilidade que a que já existe. Daí que não seja de espantar a diferença de tratamento dado pela Federação em relação ao caso de Zequinha: primeiro porque um incidente com a equipa de arbitragem é sempre considerado mais grave que com um adversário, depois porque Zequinha é um 'zé ninguém' e é irrelevante para os objectivos federativos, o mesmo não se passando evidentemente com Scolari. Quer queiramos ou não, seja eticamente mais ou menos reprovável, a verdade é que as coisas se processam desta forma e os fortes têm sempre maior margem de erro que os fracos.

A punição justa para o técnico brasileiro será portanto uma suspensão temporária e uma multa a condizer com o seu salário. Falar-se do seu despedimento imediato é despropositado. Apesar da gravidade do acto, não é razão para um castigo tão severo e, convenhamos, seria uma medida nefasta para a Selecção Nacional atravessar um período de transição técnica numa fase tão importante e decisiva como esta. E se o Presidente da FPF foi eleito para defender os interesses da futebol português, tem então o dever de lidar com esta situação com algum cuidado. Esta é a minha opinião e, como fervoroso adepto da selecção portuguesa, digamos que pertenço à facção dos moderados. E sobre o murro, apesar de tudo, fraquinho, estamos conversados.

Outra discussão completamente diferente prende-se com a realidade actual futebolística desta selecção. Na minha opinião, pior não podia estar. Nunca gostei da personagem-Scolari e acho-o limitado a nível táctico e estratégico. Mas também lhe reconheço méritos na sua capacidade de liderança, motivação e aglutinação de massas em torno de uma meta comum. Achei descabidas, por exemplo, diversas opções que tomou (preterir Vítor Baía em 2004 e Quaresma em 2006 chegou a ser escandaloso), além do ridículo de ter sido necessário perder o jogo inaugural do Euro em Portugal, para perceber que Carvalho, Maniche ou Deco tinham que estar no onze inicial. No entanto, recordo as alegrias que me deu nas boas campanhas no Euro'2004 e Mundial'2006, em jogos verdadeiramente memoráveis com a Inglaterra, Holanda ou Espanha. Isto para dizer que a minha 'relação' com Scolari sempre foi algo ambígua e instável.

Ora, a fase de qualificação para o Euro'2008 está a ser um desastre e Luíz Felipe Scolari é obviamente o primeiro responsável, da mesma forma que foi o principal exaltado nas excelentes campanhas passadas. Tendo um conjunto de jogadores absolutamente notável ao dispôr e comandando claramente a equipa mais forte do seu grupo, Felipão tinha a obrigação de ter já o apuramento assegurado, poupando-nos ao uso da máquina de calcular. Tem denotado uma gritante falta de ambição e espírito de conquista (as contas a pensar nas vitórias em casa e nos empates fora nunca me agradaram), não tem conseguido dos jogadores uma total concentração competitiva e atitude profissional, demonstra insuficiências confrangedoras a ler o jogo e a agir durante o mesmo no sentido de melhorar o desempenho colectivo, teima em deixar no banco jogadores melhores que os seus concorrentes, entre outras lacunas. O jogo com a Sérvia foi disto um bom exemplo. A passividade com que Scolari olhou para o adormecimento dos jogadores no relvado foi a razão fundamental para aquele empate e, depois da atitude pouco ambiciosa com o resultado em 1 - 0, é descabido utilizar a desculpa da arbitragem. Depois, podemos sempre lembrar a derrota e o empate com a Polónia, o empate estúpido na Arménia, e até mesmo os empates na Finlândia e na Sérvia, onde se podia ter ganho com outro tipo de mentalidade.

Na minha opinião, o tempo de Scolari ao comando da Selecção Nacional chegará ao fim com a realização do Euro'2008. Não haverá mais condições para a sua continuidade, dado o desgaste de ambas as partes. Quando partir, não rejubilarei de alegria, nem sentirei qualquer nostalgia. Contribuiu para o engrandecimento do futebol luso, mas não sentirei saudades.

Concluindo, estou com vontade de ver outro seleccionador no comando técnico nacional a partir do Euro'2008, mas a 'esquerda' aplicada a Dragutinovic nada tem a ver com isso. É uma questão meramente futebolística. Até porque ninguém me garante que o seu sucessor não possa fazer melhor.